A partir das diversas leituras realizadas nos autores referenciados, foi possível compreender que Cuba tem sua história moderna, assim como toda a América Latina, inserida em três contextos internacionais amplos, ocorridos em períodos distintos, porém determinantes regionalmente: o primeiro se refere ao processo de expansão colonialista das potências europeias, encabeçado, sobretudo por Espanha e Portugal, a partir do século XV; o segundo ao imperialismo norte-americano a partir do século XIX com a manifestação da doutrina Monroe; e o terceiro, a Guerra Fria.
Do século XVI até 1898, Cuba foi uma colônia da
Espanha. Ao início do século XIX, a história da colonização na América Latina
recebe um novo componente: a declaração do presidente Monroe “A América para os
americanos” deixa claro que os Estados Unidos têm o interesse de afastar as
potências europeias, que a essa altura já haviam fatiado a África e a Ásia,
para manter o controle da região e torná-la sua área de influência, o que logo
acontece com o Caribe.
Em meados do século XIX os Estados Unidos já eram o
principal parceiro econômico de Cuba, muito embora a colônia pertencesse à
decadente Espanha, e neste sentido vê na guerra de independência cubana a
oportunidade de se apoderar definitivamente da ilha, forjando um ataque ao encouraçado
Maine de sua própria marinha e atribuindo o fato às forças espanholas quase
derrotadas. Com esse pretexto e o pseudo apoio a Cuba, os Estados Unidos
realizam sua intervenção militar na ilha, roubando dos cubanos a autonomia da
vitória pela independência que se deu com a expulsão dos espanhóis em 1898, e
inaugurando o novo imperialismo a que Cuba ficaria submetida. Assim, os Estados
Unidos conseguiram evitar o avanço da presença inglesa, como ocorreu com outros
países recém saídos do domínio colonial português e espanhol, iniciando o
processo de construção de sua hegemonia na América Latina.
Ainda em princípios do século XIX, o império
colonial espanhol já dava mostras de esgotamento. Neste momento a Espanha
começava a perder o controle de suas colônias mais importantes na América. A
necessidade de intensificar o combate aos movimentos de libertação nacional,
principalmente na América do Sul, faz a Espanha diminuir seus interesses por
colônias caribenhas que, teoricamente, estavam sem o seu domínio posto em
risco. Assim sendo, os espanhóis viram-se obrigados a quebrar o “exclusivo
colonial” em certas colônias, como em Cuba. Em 1818, é outorgada a liberdade
colonial à ilha e, segundo Barsotti e Ferrari (1999, p.134) consolida-se a “dupla
dominação” já vigente em Cuba, desde anos anteriores. Cuba agora ficara,
oficialmente, submetida: “economicamente aos Estados Unidos e politicamente ao
decadente império colonial”.
Em meados do mesmo século, a Europa se vê diante da
primeira grande crise do capitalismo, entre 1857 e 1866. Esta crise afetaria
fortemente a economia espanhola que, consequentemente, recorreria às suas
colônias restantes para tentar estabilizar. Destarte, a Espanha empreende uma
grande campanha de aumento de taxas e impostos relacionados à produção das
colônias. Essas medidas têm, em Cuba, efeitos imediatos: a produção agrícola
estagna-se, deixando insatisfeitos não só os estadunidenses que investiam na
ilha, como também as oligarquias locais, beneficiárias da produção açucareira
cubana.
Surge, então, na parte oriental da ilha, uma
insurreição liderada por Carlos Manuel de Céspede que, para enfrentar as tropas
espanholas, liberta seus escravos formando um exército que se caracterizaria
pelo primeiro enfrentamento anticolonial cubano. Durante dez anos, (1868-1878),
o conflito estendeu-se sem conseguir atingir seu objetivo primordial: a
emancipação nacional cubana.
No final do século XIX, Cuba era um dos poucos
territórios que ainda permaneciam com status de colônia na América Latina,
pertencendo ao decadente império espanhol. Em 1895, inicia-se um novo movimento
pela independência cubana, liderado por José Martí, Máximo Gómez e Antônio
Maceo, com um exército formado, sobretudo por escravos libertos, que teve
sucesso parcial na libertação nacional. O sucesso só não foi completo porque a
independência foi interrompida pela ingerência dos Estados Unidos na guerra,
justamente no momento em que as forças espanholas estavam praticamente
derrotadas (SADER, 1987).
Foi neste momento que a ilha se livra do
colonialismo espanhol e cai nas mãos do imperialismo norte-americano, como
aponta Almir Matos, em seu livro Cuba: A Revolução na América:
Libertando-se dos antigos colonizadores espanhóis,
a república cubana nasceu subordinada, em todos os aspectos, aos interesses dos
Estados Unidos. Cuba deixava de ser uma colônia espanhola para ser uma colônia
semicolonia ianque. As inversões de capital norte-americano, que vinham
aumentando nas últimas décadas do século XIX, passaram a afluir com enorme
ímpeto desde o momento em que, estando o país sob a intervenção militar dos
Estados Unidos, o general John R. Brooke foi designado governador de Cuba pelo
presidente McKinley. (MATOS, 1961, p. 31).
Os estadunidenses que, conforme afirma Sader (1987)
iniciavam sua caminhada imperialista pela América Central, frustram, dessa
forma, a independência cubana, a partir de então, e até a revolução de 1959,
Cuba ficaria subserviente aos interesses imperialistas dos Estados Unidos,
gerando no país enorme dependência econômica e política.
Ainda, segundo Matos (1961), os Estados Unidos
proclamaram o fim do colonialismo espanhol nas Américas. A República fora
proclamada em Cuba. Entretanto, tal
república não passava de uma caricatura, pois com a adoção da Emenda Platt
(1902) o novo governo republicano de Cuba aceitava a intervenção
norte-americana, em casos de risco à soberania cubana e, sobretudo, à segurança
nacional norte-americana.
Essa situação única de Cuba no continente, a qual,
depois de vencer o imperialismo europeu, caiu no jugo de outro país americano,
fez parte das experiências acumuladas do povo cubano, e, consequentemente,
interferiam nas expectativas. Por causa da intervenção estadunidense e de sua
intromissão nos assuntos internos do país, havia, entre os cubanos, a sensação
de que a independência ainda não havia sido alcançada.
Anunciava-se assim uma era de neocolonialismo, como
previa José Martí. Porem, os ideais enunciados por ele não se perderiam diante
da repressão estadunidense. Ao contrário disso, essas ideias ganham propagação
por toda a América Latina, e mesmo em Cuba, serão retomadas mais tarde pelos
líderes da revolução de 1959.
Após a Grande Depressão de 1929, as tensões
políticas de cuba se exacerbam, e os movimentos populares constituídos nos anos
20 se intensificam os enfrentamentos com o governo que, por sua vez, aumenta
cada vez mais a repressão. A crise aumenta e em 1931, surge um novo movimento
revolucionário contra o governo de Machado, encabeçado por líderes de oposição.
Este movimento foi fortemente reprimido e, a partir daí, inicia-se um período
chamado de “época do terror” em Cuba. Somente em 1933, após uma greve geral
promovida pelo Partido Comunista, cai o governo de Machado. Nesse período, o
governo perdeu o apoio do exército oficial, e, além disso, existiu uma forte
pressão do recém eleito governo estadunidense de Franklin Delano Roosevelt que,
preocupado com a exacerbação das tensões, pressiona Machado a se exilar.
As tensões do período servem para demonstrar o
crescimento dos movimentos anti-imperialistas.
O papel do Partido Comunista foi fundamental para a queda de Machado, e
a greve geral de 1933 se tornaria um marco para os movimentos sociais
latino-americanos.
Após a queda de Machado, um movimento militar
liderado pelo sargento Fulgencio Batista colocou no poder o governo de Ramón
Grau San Martín. O governo de San Martín revestia-se de uma imagem
progressista, e em certa medida até anti-imperialista. A presença de figuras
como Antonio Guileras, um dos principais líderes populares e anti-imperialistas
cubanos, a luta para o fim da Emenda Platt – abolida ainda em 1934 -; uma ampla
reforma das leias trabalhistas; e a implementação de um sistema democrático
mais claro são provas das intenções de renovação da política cubana.
Porem, as políticas praticadas por San Martín não
agradavam ao governo de Washington, principalmente a tentativa de
nacionalização de algumas empresas estrangeiras. Assim, cresce a importância da
figura de Batista, que passa a ter apoio dos Estados Unidos para combater as
tentativas de quebra dos monopólios estadunidenses em vários setores produtivos
cubanos. Com o apoio ianque, Batista se torna uma das figuras políticas cubanas
mais fortes, sendo fundamental na destituição das medidas de San Martín e na
sustentação de governos apoiados pelos Estados Unidos, chegando finalmente, à
presidência da República, em início da década de 1940.
Após quatro anos de governo, Batista não consegue
eleger seu sucessor. San Martín volta à presidência decretando uma grande
derrota política do ex-sargento. Durante os oito anos seguintes Batista teria
que se conformar em estar em segundo plano na vida política cubana. Porém os
governos eleitos nessa década não deram conta de solucionar os problemas
sociais de Cuba e a população cubana passa a ter a ideia de que esses governos
só tinham uma função: “a de administradora e guardiã dos negócios
norte-americanos”. (BARSOTTI; FERRARI, 1999, p. 138).
A volta de Batista ao poder em 1952, através de um
golpe de estado do governo de Prío Socarrás, deu fim a um período de
fragilidade política em Cuba. Porem, a solução para essa fragilidade foi adotar
um regime duro, uma ditadura, que acabou sendo caracterizada pela rigidez e
violência contra os seus opositores. É comum encontrar na historiografia sobre
o período a designação de “estado bucaneiro” para designar o período da
ditadura batistiana.
Esse período (1952-1958) é marcado por tensões das
mais diversas. Internamente, a oposição ao governo ganha força através de
vários movimentos. Externamente, a Guerra Fria tomava contornos tensos e a
política norte-americana de combate ao comunismo internacional, é sentida
também em Cuba.
Antes mesmo do golpe de Batista, a repressão aos
movimentos sociais que tinham como bandeira o anti-imperialismo e os demais
ideais propostos por Martí eram bastante evidente. Um exemplo disso foi o
movimento liderado por Eduardo Chibás, o que foi fortemente reprimido e levou
ao suicídio de seu líder durante um programa de rádio, como forma desesperada,
de chamar a atenção para as questões que ele reivindicava.
O golpe, segundo Barsotti e Ferrari, teve claro
apoio estadunidense e, durante todo o governo Batista, Washington terá papel
fundamental nas políticas de repressão a movimentos sociais. Batista chega ao
poder com uma plataforma muito clara: trazer a estabilidade política e
econômica para Cuba. A estabilidade econômica só seria alcançada com repressão
violentas das forças oposicionistas e, economicamente, a estabilidade
perpassava a implantação de um modelo desenvolvimentista, como indicado pela
Comissão Econômica para a América Latina – CEPAL da ONU, e já aplicado, com
relativo sucesso, em alguns países Latino-americanos.
Porém, os dois principais objetivos do governo
Batista não conseguem ser atingidos. Apesar da forte repressão as forças
oposicionistas pareciam se multiplicar. O Partido Comunista, mesmo colocado na
ilegalidade e intensamente reprimido, consegue liderar manifestações
principalmente nas áreas urbanas. Os movimentos sindical e estudantil, também
coibidos por batista, conseguem se manter na luta contra a ditadura.
Uma outra frente de oposição era o Partido
Ortodoxo, de onde emergiu uma das figuras principais do movimento
revolucionário cubano: Fidel Castro. A origem de Fidel Castro era burguesa, seu
pai era rico fazendeiro, e ele teve a oportunidade de estudar em boas escolas e
ingressar no curso de Direito da Universidade de Havana. Durante sua vida
universitária Fidel Castro começa a se envolver com movimentos sociais e
políticos participando, inicialmente, de um grupo que queria lutar contra a
ditadura de Rafael Trujilo, na República Dominicana. Esse movimento fracassou,
antes mesmo de pisar em solo dominicano, e Castro passou a se envolver com
maior intensidade no movimento estudantil. Após se formar advogado, ele tentou
entrar para a política, lançando sua candidatura a Deputado pelo Partido
Ortodoxo, para as eleições de 1952. Porem, o golpe de 10 de março, frustra seus
planos. Fidel castro não se daria por vencido, e voltaria à cena, mais uma vez,
dessa vez com um inimigo mais claro: o seu opressor, Fulgencio Batista.
Fidel articula, então, um dos movimentos que
passaria a ser conhecido como marco inicial do processo revolucionário cubano.
Apesar da diversidade das forças de oposição ao governo Batista, será o “Movimento
26 de Julho” que aglutinará as principais demandas dos setores populares contra
a opressão do governo batistiano. Esse movimento teve origem na tentativa de
insurreição, liderada por Castro, que se iniciaria com os assaltos aos quartéis
de Moncada e de Bayamo. Embora o assalto a Moncada tenha sido um total
fracasso, com a prisão ou execução de todos os envolvidos, ali nascia o
movimento que culminaria na queda de Batista na virada do ano de 1958 para
1969.
Hector H. Bruit, em seu livro “Revoluções na América
Latina”, inicia o capítulo destinado a Revolução Cubana com o discurso de Fidel
Castro quando assumiu sua própria defesa por ocasião do ataque ao Moncada, e
descreveu-a num documento intitulado “A História me Absolverá”, no qual
denunciava as arbitrariedades do governo Batista para com os rebeldes,
mostrando que muitos não haviam sido mortos em combate, mas sim a sangue frio;
invocava o direito de luta rebelde contra a tirania; denunciava a penúria na
qual a população vivia; e apresentava as leis revolucionárias que depois se
transformariam no programa do Movimento 26 de Julho, data do assalto ao Quartel
Moncada. Fidel e os líderes da revolta, entretanto, foram condenados a 15 anos
de prisão. Dois anos após a ação em Santiago de Cuba, aproveitando-se da
abertura política promovida pelo governo, que decretava o fim da censura à
imprensa e o retorno das garantias constitucionais, um grande movimento pela
anistia aos presos que atacaram o Moncada forçou Batista libertá-los. (BRUIT,
1988, p. 60-90).
Esse discurso traria consigo as principais ideias
revolucionárias do movimento, inclusive o ideal anti-imperialista. Quando Fidel
disse: “Preferimos que Cuba desapareça no mar a consentir que nosso povo seja
escravo de alguém”, (CASTRO, 2001, p.95) definiu, em poucas palavras o seu
sentimento contrário à intervenção norte-americana na ilha.
A organização e atuação contra o governo Batista se
tornaram impossíveis; o policiamento sobre o Movimento 26 de Julho, o
fechamento dos órgãos de imprensa que lhes davam apoio e a cooptação das
instituições democráticas e demais forças políticas, fizeram o movimento
abandonar a via democrática e se exilar no México para reorganizar a luta
armada contra a ditadura, restabelecer a democracia, e combater o imperialismo
norte-americano.
A partir do exílio, o movimento iniciou grande
campanha de propaganda revolucionária contra Batista, costurou alianças
políticas com a burguesia cubana exilada – mais interessada em retomar seus
privilégios do que instaurar um governo popular – com o Diretório
Revolucionário e o Partido Socialista Popular, tendo o objetivo de obter o
maior apoio político possível e recursos para a campanha militar, que era o
grande ponto divergente entre estes grupos, já que o 26 de Julho defendia a
luta clandestina de guerrilha rural, e os demais, as insurreições urbanas.
No México, com poucos recursos e conhecimento
militar, iniciaram seus treinamentos para a guerrilha. É neste momento que ao
movimento são integradas duas personalidades de crucial importância: Ernesto
Guevara, médico argentino que acabara de sair da Guatemala, onde participava da
experiência democrática do governo Jacobo Arbenz - derrubado por um golpe
militar apoiado pelos EUA – e profundo conhecedor dos problemas sociais dos
povos latino-americanos, pois havia feito uma viagem de motocicleta por toda a
América Latina; e Camilo Cienfuegos, jovem rebelde cubano também interessado na
causa do 26 de Julho. Assumiram papéis simples no grupo, porém, posteriormente,
se transformaram nos grandes personagens da Revolução ao lado de Fidel.
Em novembro de 1956, 82 guerrilheiros saíram do
México com destino ao litoral sul de Cuba a bordo do iate Granma, barco com
capacidade para transportar apenas de 20 pessoas. A viagem foi demasiado
complicada, a superlotação de pessoal mais os equipamentos sobrecarregaram os
motores da embarcação, e o mar agitado os fizeram permanecer sete dias no mar,
e não os quatro previstos no planejamento. Dada a demora no desembarque, o
exército desconfiou da ação devido às manifestações populares no oriente da
ilha, que anunciavam o retorno de Fidel. Somando-se a isso, o esgotamento do
combustível fez o grupo desembarcar em local diferente do esperado, sem o apoio
dos grupos locais e numa região de mangue que dificultava a mobilização.
Cansados, os rebeldes não se deslocaram imediatamente para a Sierra Maestra, e
assim foram pegos de surpresa pelo exército, travando-se inesperadamente o
primeiro combate do qual apenas 12 guerrilheiros sobreviveram. Ao se
reagruparem em local seguro da Serra, todos se espantaram com o entusiasmo de
Fidel, que afirmava que com aqueles homens e com aquelas poucas armas haveriam
de vencer a ditadura.
A REVOLUÇÃO CUBANA
A Revolução Cubana, ao contrário do que se possa
imaginar, não foi obra apenas da consciência de Fidel Castro e seu grupo, pois
existia na ilha toda uma atmosfera de revolta contra as arbitrariedades da
ditadura Batista, bem como com uma extensa lista de problemas sociais e
econômicos derivados, sobretudo, do imperialismo estadunidense e da
subserviência das elites locais. Foi através de Fidel, todavia, que este
sentimento fora canalizado para um projeto organizado de derrubada de Fulgêncio
Batista.
Nesse sentido, cumpre
destacar que historiografia produziu, e ainda produz numerosos e importantes
trabalhos que dão conta tanto das causas e consequências da Revolução Cubana.Os
trabalhos de Emir Sader e Luis Fernando Ayerbe, ambos intitulados A Revolução
Cubana, dão um primeiro arcabouço historiográfico.
Sader compreende a Revolução
Cubana como “continuidade” do longo processo de independência iniciado pela
revolta liderada por Céspede (Primeira Guerra de Independência, 1868-78) e pela
Segunda Guerra de Independência (1895-1898), liderada inicialmente por Martí,
cuja participação norte-americana fora decisiva para a vitória contra a
Espanha. Para o autor, o movimento
revolucionário de 1959 seguiu os passos – talvez nacionalistas – das guerras de
independência do século XIX, entretanto tal qual uma “terceira guerra de
independência”, a Revolução de 1959 rompe o círculo vicioso que fizera Cuba
sair da condição de colônia espanhola e cair sob “proteção” de Washington. Na América Latina, o caso cubano se constitui
como verdadeira revolução, influenciando sobremaneira a vida cultural,
econômica, social e política do continente americano – tanto os países
latino-americanos como os EUA cujo Congresso votou inúmeras leis para conter o
perigoso avanço da revolução dentro e fora de suas fronteiras.
Partilhando da visão
“continuista” de Sader, Ayerbe vai mais fundo na história das relações entre
Cuba e EUA ao longo dos séculos XIX e XX, numa sequencia de alianças e
rupturas. O autor desenvolve suas três
visões da Revolução Cubana: a primeira aborda como fator determinante para a
radicalização revolucionária a realidade socioeconômica e política que faz
triunfar a Revolução com maciço apoio popular; a segunda é a relação bilateral
entre Cuba e a URSS, e a adoção de um modelo sociopolítico similar – fator que
é decisivo para a intervenção norte-americana; por último, o autor partilha a
visão de que é necessário desmistificar as revoluções anticapitalistas como um
“desvio de rota em relação ao chamado ‘modo de vida ocidental’” (AYERBE,
2004).
Nesse sentido, para o grupo de exilados políticos
no Mexico, as condições para a volta e triunfo revolucionário estavam postos.
Batista e o imperialismo eram alvos da luta que deveriam se alastrar pelo país
baseado em estratégias previamente delineadas.
Mas a Revolução não foi obra apenas desses homens:
o Diretório Revolucionário, o Partido Socialista Popular e, principalmente, o
Movimento 26 de Julho, construíam nessa conjuntura, a contra-hegemonia à
ditadura Batista, com movimentos articulados nas esferas democrática e
clandestina. A notícia de que Fidel havia sobrevivido ao ataque do exército,
quando do desembarque do Granma, trazia euforia a um sem número de cubanos,
pois ele representava o símbolo da resistência contra Batista e os EUA.
Após chegarem à Sierra Maestra, os guerrilheiros
passaram a conhecer mais a fundo a realidade do campesinato, ou seja, a
exploração de seu trabalho, a violência dos latifundiários, e o conluio das
autoridades com essa situação, efeitos de um modelo capitalista agroexportador
controlado por interesses norte-americanos, e com a conivência do governo
ditatorial de Batista, que deixava não só os camponeses, mas toda a população
acuada e sem perspectiva de vida.
Dessa forma, através da difusão do programa do
Movimento 26 de Julho, que pretendia, dentre outras coisas, transferir a posse
da terra para a população, expropriar os grandes latifúndios e integrar os
pequenos produtores na indústria da cana-de-açúcar, a confiança dos camponeses
foi sendo pouco a pouco conquistada. Ao mesmo tempo, o exército rebelde
promovia ajuda médica, sanitária e de alfabetização, e o recrudescimento das
ações contra a ditadura. Com isso, os camponeses passaram a auxiliar a
guerrilha, deixaram de ser espectadores para se tornarem a principal personagem
do triunfo da Revolução.
O movimento não possuía estratégias bem definidas:
a tática era fazer da Sierra Maestra a base da guerrilha, muito embora houvesse
em vários pontos da ilha focos insurrecionais, e através de pequenos ataques e
sabotagens às forças de Batista, conquistar espaços e moral revolucionária.
Através da adesão da população, sobretudo camponesa, e da propaganda
revolucionária, a guerrilha se fortalecia, avançava pela região oriental da
ilha, desmoralizava Batista e ganhava notoriedade internacional, como no caso
do sequestro do campeão de automobilismo Juan Manoel Fangio em 1958, por
ocasião do Grande Prêmio de Cuba que teve de ser suspenso.
A essa altura o exército rebelde já possuía grande
contingente, sendo dividido em colunas, a primeira delas entregue a Che, a
segunda a Raúl, a terceira a Juan Almeida e a última ao comando de Camilo
Cienfuegos, ficando Fidel no comando geral da Revolução. A rebelião já ameaçava
o regime ditatorial e, dessa forma, foram mobilizados dezenas de milhares de
soldados numa ofensiva à Sierra Maestra, contando com blindados e aviões
bombardeiros norte-americanos. A estratégia de resistência dos rebeldes, no
entanto, infligiu ao exército de Batista grandes perdas humanas, físicas,
materiais e psicológicas, além de reforçar a estrutura rebelde com os
armamentos e materiais militares expropriados. Diante dos abalos sofridos por
Batista, a guerrilha passava da posição defensiva para a ofensiva, e assim as
colunas de Raúl e Almeida foram destacadas para reforçar as posições orientais,
já praticamente livres, e iniciar o trabalho humanitário de construção de
escolas e hospitais; já as colunas de Che e Camilo se mobilizaram para o
ocidente, com os objetivos de dividir a ilha em duas partes, declarando a
oriental sob comando do exército revolucionário, e avançar em direção a Havana,
capital do país. Neste momento, Batista já estava desesperado. Convocou
eleições fraudulentas, assassinou presos políticos, e tentou sua última cartada
para frear a coluna de Che que avançava em direção à capital, enviando um trem
blindado com grande contingente militar à cidade de Santa Clara, tomada por
Che.
Antes mesmo de tomar posição, o trem foi
descarrilado, promovendo um grande revés à operação, na qual a maioria dos
soldados entregou suas armas sem resistência diante do cerco dos rebeldes e da
consciência que já os acometia, fazendo-os crer na vitória de um exército
legitimado pelo povo sobre o regime tirano que eles estavam defendendo.
Em 31 de dezembro de 1958 Batista fugiu do país, as
colunas de Che e Camilo entraram em Havana em 3 de janeiro de 1959 sem
encontrar resistência, uma greve geral foi organizada para desarticular as
poucas mobilizações dos militares que haviam assumido o governo e a 8 de
janeiro de 1959, o país inteiro comemorava a chegada de Fidel a Havana, saudado
por todo o povo cubano que vibrava com a fuga de Batista e o triunfo da
Revolução.
A vitória da revolução não significou somente a
queda de Fulgencio Batista. A partir de 1º de janeiro de 1959, Cuba tomara um
rumo definitivo em direção a sua emancipação completa, evocada por José Martí,
no final do século anterior. O estabelecimento de uma nova ordem política
perpassava por uma independência política e econômica, cortando, de uma vez por
todas, os laços de dominação atados pelos Estados Unidos. O novo governo
deveria contemplar o sentimento antiamericano nascido em Cuba quase que
simultaneamente ao estabelecimento da Doutrina Monroe.
Assim sendo, desde os primeiros dias do
estabelecimento do governo revolucionário inicia-se uma tensão em Cuba e os
Estados Unidos. Durante 1959, segundo Dominguez (1992, p. 184), as intervenções
econômicas estadunidenses continuam a acontecer. Porem, aos poucos o governo
cubano vai mudando sua atitude frente aos investimentos estrangeiros e começa a
impor barreiras ao intervencionismo de seu vizinho do norte. Ao mesmo tempo, os
Estados Unidos não eram simpáticos à revolução e eram publicamente contrários
ao estatismo pregados pelos representantes do governo cubano, o que aumentava
ainda mais as tensões entre os dois países. Neste momento, o anti-imperialismo
transcende a ideologia revolucionária e passa ser prática política do governo
estabelecido.
O período inicial do governo revolucionário é
caracterizado por uma relação um tanto melindrosa com os Estados Unidos. E essa
relação era levada pelos estadunidenses também em compasso de espera. Ayerbe
(2004, p. 59-60) descreve o período da seguinte maneira:
A dependência da exportação de um produto, o
açúcar, em relação a um único mercado, limitava enormemente as opções do novo
governo, preocupado em viabilizar uma política independente, sem comprometer o
estado de “simpatia benevolente” característico das reações iniciais dentro dos
Estados Unidos ante a Revolução. [...] Na verdade, o que se esperava (ou se
desejava) nos EUA era um pequeno intervalo de moralização da imagem de
Cuba.[...] Feito isso, e sem demora deveriam convocar as eleições.
Ayerbe destaca ainda que as manifestações
contrarias ao governo revolucionário limitaram-se as notas na imprensa
demonstrando a preocupação com perseguição contra os partidários de Batista e o
desagravo pela demora na convocação de eleições. Entretanto, o governo
norte-americano não chegou a se pronunciar oficialmente sobre os temas.
As preocupações imediatos do novo governo cubano
estava ligadas às questões internas de reestruturação do Estado e de julgamento
e punição dos atos políticos de Batista e seus correligionários. Fora essas
medidas, as primeiras preocupações do governo revolucionário foram com a
diversificação econômica (incentivo às indústrias) e a melhoria das condições
de vida da população (redução dos alugueis, aumento de salários, etc.).
Fidel castro tornou-se uma espécie de embaixador da
revolução e durante os seis primeiros anos viajou por diversos países tentando
angariar simpatia ao novo governo. Na maioria de seus pronunciamentos, castro
demonstrava a preocupação em não delinear ideologicamente o movimento
revolucionário, afirmando que a revolução “não era de esquerda nem de direita”.
Neste momento, as bandeiras revolucionárias ainda
não possuíam caráter socialista, pois o programa de governo estava baseado no
documento de defesa de Fidel quando esteve preso, “A História me Absolverá”.
Entre as primeiras medidas do programa estava a Reforma Agrária, que expropriou
os latifúndios, promoveu a distribuição de terras e organizou os camponeses em
cooperativas. As outras medidas do programa eram: participação dos operários no
lucro das empresas, confisco de bens malversados, política de solidariedade
entre os povos latino-americanos democráticos acometidos por ditaduras.
Muito antes
dessas medidas os EUA já demonstravam preocupação com Fidel e seus
guerrilheiros, evidenciada através de cooperação militar com o regime deposto,
fornecendo armamentos, treinamento e colaborando diretamente nos bombardeios à
Sierra Maestra. Batista havia se exilado na República Dominicana e de lá
articulava a contrarrevolução com a burguesia cubana exilada nos EUA. À medida
que as ações do novo governo de Cuba caminhavam no sentido democrático, os
interesses das empresas norte-americanas e da burguesia local eram
contrariados, o que recrudescia os atentados contrarrevolucionários a Cuba,
planejados inclusive pela CIA, muitas vezes direcionados à própria pessoa de
Fidel.
A cada ação do governo cubano, como a
nacionalização das empresas norte-americanas, United Fruits, Texaco e Esso,
havia uma retaliação dos EUA, de onde partiam pequenos aviões para bombardear
as plantações de cana e também a capital Havana. Nesta belicosa conjuntura, os
EUA pararam de fornecer petróleo a Cuba e de comprar seu açúcar, fazendo a ilha
buscar um novo parceiro na política externa bipolarizada devido à Guerra Fria,
inicia-se assim o ingresso profundo de Cuba na terceira grande conjuntura
internacional a que fazemos referência, pois claro estava que este parceiro
seria a URSS, tendo em vista que na luta pela hegemonia internacional, esta e
os EUA buscavam áreas de influência, fechando os espaços um do outro.
Dessa forma, em 1961, são costuradas as primeiras
relações políticas e econômicas com a URSS: esta passaria a comprar o açúcar da
ilha e a fornecer-lhe petróleo. Era o início da inclinação em direção aos
países do bloco socialista, que logo incluiu o estreitamento das relações
diplomáticas com a China e o Leste Europeu. Soma-se a isso que, do ponto de vista
geoestratégico, ter uma área de influência no Caribe, próximo aos EUA, era de
grande interesse para a URSS e uma grande ameaça para o primeiro.
Assim, as ações contrarrevolucionárias ganhavam
corpo, milhares de terroristas se infiltraram no país para executar toda
espécie de sabotagem contra o governo revolucionário, porém um episódio seria
marcante neste sentido: em abril de 1961, desembarcaram 1500 homens na Baía dos
Porcos, sul de Cuba, cubanos exilados e mercenários norte-americanos com apoio
aéreo dos EUA.
A resposta foi dada, a princípio, pelas milícias
populares criadas para defender a Revolução e em seguida pelas tropas do
exército comandadas pessoalmente por Fidel, que rechaçaram os inimigos. A
imprensa norte-americana fazia seu papel na disseminação da ideia que as
próprias tropas e a população haviam se voltado contra Fidel e que o mesmo
havia morrido em combate.
O governo dos EUA assumiu a participação na
tentativa de golpe. Para resguardar a Revolução, o governo mobilizou todo o
povo, além das milícias armadas foi criado o Comitê de Defesa da Revolução
(CDR), organizado em cada bairro para ficar sempre vigilante contra qualquer
tentativa de ações contrarrevolucionárias. Neste sentido, o governo cubano
infiltrou homens nas organizações contrarrevolucionárias sediadas em Miami, o
que evitou inúmeros atentados terroristas à ilha. E este talvez seja um dos
episódios mais famosos e tristes da história cubana, pois os oficiais da
inteligência cubana abandonaram suas famílias em prol da causa revolucionária;
alguns foram descobertos, presos e julgados sem amplo direito de defesa, uns
capitularam, porém cinco deles estão presos até hoje nos EUA.
A consequência profunda de um movimento
inicialmente voltado para derrubada da ditadura e implementação de medidas
democráticas, foi minar as bases do capitalismo, contrariando os interesses
norte-americanos e da burguesia cubana. Assim, as relações entre Cuba e EUA se
deterioravam e, de forma inversamente proporcional, as relações de Cuba com a
URSS se desenvolviam.
Dessa forma, ao início de 1961 os EUA rompem todas
as relações com Cuba decretando o embargo político e econômico que prometia,
ainda, retaliar todos aqueles que mantivessem relações com a ilha; Colômbia e
Venezuela aderem imediatamente . Em 1962 Cuba é expulsa da Organização dos
Estados Americanos (OEA) devido à pressão dos EUA: todos os países
latino-americanos romperam relações políticas e econômicas com a ilha; mas não
apenas estes, como também todo o mundo ocidental sob hegemonia norte-americana
se posicionou ao lado do capitalismo na geopolítica da Guerra Fria.
E neste mesmo ano o mundo se viu na iminência de
uma grande guerra entre EUA e URSS que assumiria dimensões catastróficas, dado
o desenvolvimento bélico, sobretudo de armamento nuclear, desses países. A URSS
instalou uma base com mísseis nucleares em Cuba, descoberta pelos
norte-americanos que imediatamente fizeram um bloqueio naval impedindo navios
soviéticos de aportarem na ilha, acirrando as tensões.
Para sorte do mundo o impasse foi resolvido de
forma diplomática. Sem manter relações políticas, e principalmente econômicas,
com o mundo ocidental, a única alternativa para Cuba era se aproximar cada vez
mais do bloco socialista. Todavia, a aliança com a URSS e os países do bloco
socialista não se limitou às questões políticas e econômicas, mas também
ideológicas, pois significou a definição sólida do significado da Revolução,
que agora passara a ser socialista.
DESENVOLVIMENTO
E DECLÍNIO DO SOCIALISMO
Praticamente isolada, as
dificuldades da ilha se multiplicavam, com sua economia baseada
predominantemente na monocultura canavieira; simples produtos do cotidiano
desapareceram com o embargo, já que praticamente todos eram importados. A
complexidade dos problemas extrapolava os acordos comerciais com a URSS, que
garantia o fornecimento de petróleo e a compra do açúcar.
Os meios de produção foram estatizados, mas a
industrialização num país que tivera toda sua história econômica ligada à
monocultura para exportação não era possível dada a falta de desenvolvimento
científico e de corpo técnico qualificado para tal empreendimento: à economia
não restava alternativa que não o continuísmo da indústria canavieira.
Com as dificuldades econômicas, a implantação da
gratuidade dos serviços públicos e a consolidação do socialismo enfrentavam
dificuldades, porém à medida que Cuba rompia definitivamente com os resquícios
de capitalismo e a posição ideológica do Bloco Histórico que se formava assumia
feição socialista, a relação com a URSS se solidificava: no plano comercial
Cuba passara a fornecer, além de açúcar, frutas e tabaco, e recebia outros
produtos agrícolas, equipamentos industriais e bélicos, além de petróleo.
Os acordos, todavia, deixaram de ser meramente
comerciais e passaram ao plano científico e tecnológico. A partir daí a
agricultura foi mecanizada e outras atividades econômicas se desenvolveram
concorrendo para a diversificação econômica do país.
Ao final da década de 70 a economia cubana estava
recuperada e em franco desenvolvimento, embora dependente de uma potência
econômica. Mesmo assim, o socialismo se assentava em bases mais sólidas: no
plano social Cuba alcançava resultados vistos apenas em países ricos, o esporte
e a cultura foram integrados à educação, logrou-se grande desenvolvimento no
cinema, teatro, literatura e artes em geral; na saúde as ações de medicina
preventiva substituíram as políticas de remediação, que favoreciam as grandes
indústrias farmacêuticas.
A Revolução chegara à sua plenitude e ganhava cada
vez mais o apoio popular, enquanto as ações contrarrevolucionárias perdiam
força. A partir de 1976 o sistema político foi organizado em forma de Poder
Popular, ou seja, qualquer cidadão poderia se candidatar para as assembleias
municipais, que elegem os membros das assembleias provinciais, e que por sua
vez elegem a Assembleia do Poder Popular, isto é, a assembleia nacional. Embora
o país possua apenas um partido, os cidadãos não precisam estar afiliados a ele
para concorrerem a um cargo público, pois suas campanhas são igualitárias,
públicas e arcadas pelo Estado.
No plano político internacional, a Revolução Cubana
representou um grande exemplo na luta contra os imperialismos, não apenas para
os países da América Latina, mas para todo terceiro mundo. Este fenômeno
preocupou os EUA ao ponto do mesmo patrocinar ditaduras militares por todo o
continente para afastar a “ameaça comunista”, pois mais ameaçador do que o
exército e as armas cubanas foi a ideologia socialista vencedora em Cuba.
Pode-se afirmar ter sido esta a primeira grande
derrota – a segunda seria o fracasso na Guerra do Vietnã – dos EUA no contexto
da Guerra Fria, fato agravado pelo fato dessa nação socialista estar no
continente americano, e a apenas 140 km da Flórida. De forma solidária, Cuba apoiou
todos os movimentos contra as ditaduras, estivessem elas na América Latina,
principalmente na América Central, ou na África, onde a presença de Che
demonstrava toda sua coragem revolucionária, lutando no Congo.
Posteriormente, Guevara foi morto em 1967 na
Bolívia, pelo exército desse país, mas com apoio de militares norte-americanos.
Se outras experiências socialistas não obtiveram êxito na América Latina nas
décadas de 60 e 70, como desejava Che no seu projeto de disseminação da
Revolução e da luta anti-imperialista, à exceção da Nicarágua, isso se deve, em
parte, à violência dos governos ditatoriais contra os movimentos desta
natureza, graças ao apoio norte-americano que não intencionava perder outra
batalha na Guerra Fria, e à eficácia dos mecanismos de cooptação e alienação da
sociedade de consumo capitalista, que entorpecem a maior parte das populações
latino-americanas.
A queda do bloco comunista em 1989 e a
desintegração da URSS em 1991 inauguraram uma nova fase na história de Cuba, e
este momento ficou conhecido como “período especial”. Com isso Cuba perdia seus
principais parceiros comerciais e a estabilidade econômica garantida por
acordos sólidos que ignoravam a volatilidade dos preços internacionais.
A exportação de açúcar diminuiu drasticamente, a
importação de todo tipo de artigo de consumo idem, mas acima de tudo, o
petróleo garantido pela URSS foi reduzido à metade. Este evento não apenas
impedia o processo embrionário de industrialização do país, mas principalmente,
mergulhava a sociedade num período de grande dificuldade, no qual o
abastecimento de produtos básicos foi comprometido, a dieta do cubano foi
alterada sobremaneira e o racionamento de energia deixava as cidades em longos
períodos sem luz.
Diante das dificuldades, a imprensa internacional,
os setores conservadores cubanos e os EUA contavam as horas para a queda do
governo de Fidel. Para superar a crise, Cuba foi obrigada a fazer mudanças no
sistema econômico, abriu as portas para o capital estrangeiro, principalmente
para serem aplicados no turismo que passou a ser a principal fonte de divisas
para o país, permitiu pequenas propriedades privadas e quebrou o monopólio
sobre o plantio da cana-de-açúcar, organizando os produtores em cooperativas e
permitindo que estes comercializassem a produção excedente.
O país passou a conviver com duas moedas, o Peso
Cubano com baixo poder de compra, e o CUC, na qual as transações na indústria
do turismo ocorrem, alterando significativamente o poder de compra de quem
possui moeda forte ou fraca. Estas modificações introduziram na sociedade
cubana certas diferenças econômicas: as pessoas que possuíam pequena capacidade
material para explorar a indústria do turismo, como possuir um carro e
transformá-lo em taxi, ou a habilidade com os artesanatos aproveitada com a
possibilidade de construir uma propriedade privada, lograram certa vantagem em
relação aos demais.
A diferenciação econômica entre os indivíduos não é
suficiente para criar classes antagônicas, contudo a diferença do nível de vida
é visível e amarga ao socialismo cubano. Os que vivem do turismo ganham mais do
que os médicos e professores, principais atores no conjunto dos direitos
sociais, pois recebem em pesos cubanos, e os primeiros em moeda forte (CUC). Em
Havana há um sem número de desocupados que preferem arrancar um dólar por dia
do turista a trabalhar, pois assim ganharão mais do que muitos professores e
médicos, ou dedicar-se à venda de charutos e rum falsificados ou
contrabandeados das fábricas. Existe venda de drogas e prostituição, porém
voltados principalmente para os turistas; o pleno emprego não é mais uma
realidade, a habitação e o transporte público são insuficientes, mas ao
contrário dos países de sistema capitalista, em Cuba os direitos mais
fundamentais são garantidos gratuitamente.
As insatisfações ocorreram, contudo não o
suficiente para implodir o sistema socialista cubano, muito bem defendido pelas
lideranças revolucionárias e construído em bases sólidas, e que havia
exterminado com a ditadura de Batista, acabado com a exploração capitalista,
expulsado a máfia, erradicado o analfabetismo, criado sistemas educacionais e
de saúde de primeiro mundo.
Dessa forma, o apoio da população foi
incondicional, e mais uma vez determinante. Destarte, podemos acreditar que a
permanência das lideranças da Revolução no poder, a ampla democratização dos
direitos sociais e a garantia mínima de vida mesmo num período de grave crise –
ao contrário do que ocorreu no leste Europeu e na URSS, onde a solução foi
aderir à economia de mercado, o que causou grandes danos à sociedade – foram
responsáveis pela manutenção do governo socialista, ao contrário do
esfacelamento que ocorreu com o restante do bloco socialista na Europa.
IMPERIALISMO
Os
estudos sobre o Imperialismo foram elaborados com o objetivo de contribuir para
a concretização das análises articuladas em sala de aula e para a ampliação de
conhecimentos sobre a origem e desenvolvimento do imperialismo na América
Latina bem como sua inserção no capitalismo mundial.
Mas
o que é afinal o Imperialismo?
Segundo
o dicionário da língua portuguesa Houaiss (2004, p. 401) “Imperialismo é uma
política de expansão e domínio econômico, político e cultural de uma nação
sobre outra”.
Podemos
dizer que a sua origem e expansão foi moldada a cada período histórico da
humanidade. Sua dimensão ideológica nas colônias surgiu como dominação
paulatinamente através da expansão territorial das grandes nações da Europa,
que, agora já unificadas, e com um forte sentimento nacionalista na sua
população é explorada por líderes autoritários.
Com
a revolução industrial, surgia no cenário europeu um mundo de potências
industriais concorrentes entre si, a produção excedente gerada pelas
indústrias, uma concentração de capitais, lucros, que conduzia o nascimento de
uma rede de transações cíclicas no deslocamento de produtos, dinheiro e
pessoas.
Com
a concentração de lucros, surgem no mercado as grandes corporações, ou seja, os
monopólios com características onde a oferta é controlada pelos parceiros em
comum. A acumulação de bens e a concentração de lucros, investimentos, foram o
ponto de partida o começo e a ascendência no mercado dos trustes, cartéis, a
fusão do capital bancário com o industrial, o capital financeiro e o abandono
da livre-concorrência.
A enorme acumulação produzida pela revolução
industrial nos séculos XIX e XX abarcou a necessidade de buscar novos mercados
para investir o capital excedente e escoar a produção, pois gradativamente as
concorrências de empresas passaram a ser uma disputa entre as nações, o globo
terrestre foi (re) distribuído entre as grandes nações europeias.
Novamente a
expansão surgia como a tábua de salvação, se e enquanto pudesse proporcionar o
interesse comum para a nação como um todo, e foi principalmente por esse motivo
que se permitiu que os imperialistas se tornassem “parasitas do patriotismo”.
[...] Além disso, o imperialismo não era uma aventura no sentido comum, porque
dependia menos de lemas nacionalistas que da base aparentemente mais sólida dos
interesses econômicos. Numa sociedade de interesses em conflito, onde o bem
comum era identificado com a soma total dos interesses individuais, a expansão
como tal tinha aparência de possível interesse comum da nação como um todo.
Como as classes proprietárias e dominantes haviam persuadido a todos que o
interesse econômico e a paixão pela propriedade formam uma base firme para o
corpo político, até mesmo estadistas eram facilmente persuadidos quando se
divisava no horizonte o interesse econômico comum (ARENDT, 1989, p. 182-184).
A
escritora Hannah Arendt detectou a relação que existiu entre o nacionalismo e o
imperialismo, onde foi construído o sentimento de superioridade, o desejo de
grandeza e o expansionismo defendido pelos grandes grupos econômicos dos países
europeus.
Nesse
período, a ciência e a técnica provocaram mudanças nuca pensadas antes, e o
imperialismo de motivações econômicas passou também a estar associado ao
prestígio e a influência de uma nação sobre a outra e sobre o mundo. Como fora
comentado por Lenin (1987): “Se tivéssemos de definir o imperialismo da forma o
mais breve possível, diríamos que ele é a fase monopolista do capitalismo”.
Era
de suma importância ter colônias, bases navais e protetorados em todos os
continentes. Os impérios europeus impuseram seu domínio, seu controle direto ou
indiretamente, sobre as populações distintas, com culturas e tradições
milenares, disseminando monopólio capitalista no globo terrestre.
Com
a expansão marítima dos países ibéricos a América também sofreu consequências
da expansão capitalista no século XIX, sendo coagida por muitas pressões e
ações econômicas externas.
A
América foi introduzida no cenário geográfico e econômico dos países
expansionistas. Os Estados Nacionais desarticulados, fracos, oligárquicos, não
conseguiam livrar-se do endividamento e da dependência dos produtos europeus
industrializados.
No
final do século XIX, o universo terrestre sofria influência e consequências
direta e indireta das potências imperialistas, a economia, a sociedade, a
política dos países colonizados e dependentes da estrutura do grande capital
oriundos dos impérios, sobretudo da Europa, tinham suas estruturas construídas
em função das necessidades capitalistas.
De
acordo com leituras do material de Plinio de Arruda Sampaio Junior ao citar o
livro de Lênin O imperialismo a etapa superior do capitalismo.
Uma
definição do imperialismo que inclua os cinco traços fundamentais seguintes:
1) A
concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado de desenvolvimento
que criou os monopólios, os quais desempenham um papel decisivo na vida
econômica;
2) a fusão
do capital bancário com o capital industrial e a criação, baseada nesse
“capital financeiro” da oligarquia financeira;
3) a
exportação de capitais, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire
uma importância particularmente grande;
4) a
formação de associações internacionais monopolistas de capitalistas, que
partilham o mundo entre si, e;
5) o termo
da partilha territorial do mundo entre as potências capitalistas mais
importantes (LÊNIN, 1870 e 1924, p. 217- 218).
O
imperialismo passou a ser justificado não apenas por sua função econômica, mas
também pela ideologia de dominação de “missão civilizadora” sendo a sua
dominação a outros povos e a outras culturas, defendidas como uma salvação para
o progresso e para a humanidade terrena. O resultado foi uma corrida
expansionista com características distintas. São elas a tecnologia, a riqueza,
o poderio bélico, a organização política, o acumulo de capitais e de bens.
Na
concorrência pelos mercados internacionais às nações disputavam entre si o
domínio e a consolidação do capitalismo financeiro, a divisão do mundo, a
exportação de seus bens industrializados, a mão de obra barata e farta dos
países tidos como subdesenvolvidos econômica e etnicamente inferiorizados.
Alguns países ficaram para traz não acompanharam a evolução do imperialismo
voraz, e outros surgiram para substituir os que se perderam no trem da história
do imperialismo e com esse cenário eclodiram duas grandes guerras
catastróficas, a I Guerra Mundial, a II Guerra Mundial e mais tarde a chamada
Guerra Fria onde não existiu combate e sim diplomacia bipolarizada entre EUA e
URSS, fatos cruciais que a humanidade jamais havia presenciado na era
contemporânea.
O novo
imperialismo distingue-se do velho, primeiro porque, em vez da aspiração de um
só império crescente, segue a teoria e a prática de impérios rivais, cada um
deles guiando-se por idênticos apetites de expansão política e de lucro comercial;
segundo, porque os interesses financeiros, ou relativos ao investimento de
capital, predominam sobre os interesses comerciais. (HOBSON, 1902 apud LÊNIN, 1870 e 1924, p. 221).
Desse
grande conflito de imperialistas vai surgir um novo império superior aos
outros, Os Estados Unidos que irá (re) distribuir o mundo, as organizações
políticas e a economia mundial, da mesma forma que os países imperialistas
europeus defendiam a sua superioridade em sua missão civilizadora os
estadunidense também passaram a defender e a legitimar a expansão dos
interesses norte-americanos e voltaram seus esforços anticomunistas para
defender e expandir sua dominação completa na América Latina usando o lema
legitimado pelo presidente James Monroe em sua Doutrina Monroe.
Conjunto das
políticas aplicadas pelo presidente dos EUA, James Monroe (1817-1825), que se
opunha à tentativa de recolonização das nações americanas recém-emancipadas por
suas metrópoles. Seu lema era “a América para os americanos” (ALMEIDA, 2010, p.
34).
O
presidente dos Estados Unidos (EUA) era contra a tentativa dos países europeus
de recolonizar a América, anunciava que as nações que haviam adquirido sua
independência não seriam subordinadas a nenhum país europeu.
Os
países da América Latina seriam influenciados pelas relações, ações, decisões,
a partir das decisões externas e internas dos Estados Unidos. Os estadunidenses
desenvolveram uma diplomacia distinta entre os países da América Latina,
norteando as suas relações em interesses econômicos, políticos e militares
pautados no dólar e no big stick (grande porrete). Os Estados Unidos segue
entrelaçando os seus objetivos de centralização de potência imperial à América
Latina, com ajuda, com interdependência financeira, social e política através
de muitos mecanismos de justificação e perpetuação de seu poder. Atualmente em
uma perspectiva histórica, podemos constatar que vários países americanos têm
germinado a ideia de emancipação econômica e política, adotando um nacionalismo
independente contra a diplomacia americana.
O
governo estadunidense vem reagindo de múltiplas formas contra esses problemas
diplomáticos, sempre recorrendo ao dólar, à política do big stick, a política
de boa convivência, a política do aliado preferencial, o poder bélico, a
pressão, o embargo interno e externo, a verdade é que o imperialismo norte
americano precisa fazer face às contradições de sua dominação nos países
latino-americanos.
Uma análise
da América Latina neste fim de século coloca o capitalismo no banco dos
acusados como réu dos crimes de genocídio social que caracterizam nosso
continente. E como a bateria que pode alimentar alternativas anticapitalistas e
socialistas na América Latina. (SADER, 1943).
O
continente americano atravessou múltiplas crises, vários processos
revolucionários, muitas lutas de resistências, todos esses fatores aconteceram
respaldados na dimensão e dominação do imperialismo.
Baseado
nas características que fundamentam e consolidam a hegemonia estadunidense,
vale destacar a atuação da historia cubana, como uma heroica e prolongada
reivindicação nacional de a princípio caráter nacional e um crescente ato
político.
Dentro
da ilha cubana existiam no seio do governo ditador Fulgencio Batista implantado
e eleito presidente com a conveniência dos Estados Unidos, neste país podemos
destacar características do imperialismo antes das lutas revolucionárias,
produção agroexportadora, o trabalho de forma escravista, os grandes
latifundiários, uma produção de monocultura para exportação, a exploração da
mão de obra barata e farta, uma classe burguesa subordinada ao capitalismo
esterno, diante de todo esse quadro de dominação e hegemonia norte americana
surgiu à crise que será a princípio democrática e também popular para lutar
contra as amarras da interdependência, a ideologia dos desiguais, a submissão
dos dominados e a ruptura estrutural de poder e políticas da potência
imperialista norte-americana.
CUBA HOJE
No
início Cuba procurou estabelecer as suas relações de lutas sociais contra o
desenvolvimento do capitalismo, contra a expansão e dominação do imperialismo
na ilha de Cuba, o antagonismo contava com a participação da classe operária
explorada e também com a burguesia comercial menosprezada pela classe dominante
vinculada com relações externas com os estadunidenses.
Diante
do quadro de insatisfações cubanas permeava a construção da nacionalidade com
caráter social, porque p período histórico cubano havia edificado governos
submissos, sustentados e mantidos de acordo com os interesses norte-americanos
e não era um governo das massas populares, era uma república de faz de conta
que deixava o povo da ilha a margem do seu país.
O
movimento que iniciou com ideais democráticos paulatinamente foi se tornando
socialista, não por convicções, mas por represálias, bloqueios econômicos e até
com ameaças e ações militares por parte do poder imperial norte-americano e por
seus aliados em defesa do parceiro preferencial, sem ajuda financeira, sem
poder exportar ou importar seus produtos, Cuba se aproximou da URSS o representante
do socialismo que havia saído com poder e muitos adversários da II Guerra
Mundial e agora disputava com igualdade de poder a bipolarização do mundo com
os estadunidenses.
A
população desenvolveu uma consciência política e econômica, que agora nutria um
antagonismo pelo imperialismo e capitalismo representados pelos Estados Unidos,
mas não obstante aquela classe que fazia parte ou dependia economicamente,
ideologicamente, politicamente, da estrutura imperialista defendida pelos EUA
ou pelos seus defensores abandonaram a ilha de Cuba e seu novo perfil de
governo socialista.
Com
um novo governo e com o embargo econômico e militar imposto pelo país
imperialista norte-americano, os cubanos e seu representante Fidel Castro
fizeram um plano econômico voltado para privilegiar Cuba, suas instituições e
sua população, apoiando-se nos ideais da construção de uma nova sociedade
voltada para o socialismo. Os esforços foram muitos e as barreiras muitas vezes
intransponíveis e a ilha de Cuba que sonhou um país voltado para o seu
nacionalismo independente das ações imperialistas, mergulhou em período de
situações difusas com um destino desagregado e desamparado da comunidade
socialista da URSS que não mais existe.
A
situação que Cuba hoje se encontra é o resultado da união da sua exploração
exacerbada de seus recursos naturais no passado também a junção dos pontos
negativos comuns a América Latina e a hegemonia do poder ostensivo dos EUA com
a consolidação da transformação da geopolítica desse império imposto ao globo
terrestre.
Contudo
Cuba conseguiu grandes avanços internos para a sua população, reforma agrária,
erradicação da miséria, o fim do analfabetismo, o desaparecimento da
mendicância, o incentivo a projetos educacionais e o investimento na área da
saúde. A população jovem não viveu a época da subordinação do imperialismo e
muitas vezes não dá o devido valor à revolução e grande parte da população
aumenta essa distorção de ideias por estar cansada de sacrifícios que os
cubanos tiveram que enfrentar durante longos anos de embargo econômico,
privação de bens consumistas, política interna muitas vezes sem “abertura”.
Em
suma o povo e o governo de Cuba passam pela crise de símbolos, pois a sua
imagem é distorcida para o mundo global, essa população de revolucionários
descendentes do povo que queria mudança, queria falar, queria ter o direito de
escrever, queria ter a liberdade de escolher o seu futuro sem a presença de uma
pseudo república comandada pelo grande imperialista do século XX Os
estadunidenses.
Cuba talvez seja o exemplo mais claro do reflexo
dos movimentos políticos e econômicos conduzidos pelas potências econômicas nas
três conjunturas internacionais que citamos, e das dificuldades impostas aos
países da América Latina por estarem a reboque destes: primeiro pela
colonização espanhola, através da violência, do sistema de exploração econômica
baseado na monocultura canavieira, e da escravização, sobretudo de africanos;
segundo, pelo imperialismo norte-americano e suas intervenções militares,
sabotagens, e bloqueio econômico; e terceiro, pela retaliação sofrida no
contexto da Guerra Fria em função do ingresso de Cuba no bloco socialista.
Esses problemas foram enfrentados, em maior ou menor grau, por todos os países
da América Latina, porém podemos dizer que em Cuba suas cores e formas foram
mais nítidas.
Cuba foi um dos últimos países a se tornar
independente na América, com as intervenções norte-americanas se dando de forma
maciça e prolongada. As retaliações através da propaganda antissocialista
persistem até os dias de hoje, somando-se a isso o fato de que Cuba é o único
país da América submetido a um embargo político e econômico que dura desde
1961, responsável certamente pelos principais problemas enfrentados pela ilha.
A independência cubana chegara de fato apenas em
1959, já que em 1898, ao expulsar os espanhóis à custa de centenas de milhares
de pessoas, sua soberania foi retirada à força pelos EUA, inaugurando uma nova
fase de dominação estrangeira. Em 1959, sob a liderança de Fidel Castro e Che
Guevara, entre outros, Cuba inicia sua verdadeira experiência democrática.
As dificuldades de implantação de um sistema
socialista num país subdesenvolvido foram grandiosas, ao contrário do que Marx
preconizava, ou seja, o socialismo como superação do modo de produção
capitalista desenvolvido, o socialismo cubano se assentou numa economia agroexportadora.
Além do mais, o imperialismo norte-americano instalado na ilha há mais de meio
século associado à burguesia local dificultava este empreendimento. É certo
que, a princípio, a Revolução tinha apenas o objetivo de despojar o regime
ditatorial de Batista e restabelecer a democracia, porém isto causou uma
ruptura com o sistema capitalista de tal forma que empurrou a ilha em direção
ao bloco socialista, e ao socialismo.
A adesão ao bloco socialista não lhe proporcionou
autonomia, pois da forma como se deu, ou seja, fornecendo de bens primários em
troca bens acabados, viu impedido e defasado o seu processo de
industrialização. Foi apenas com esses laços, contudo, que Cuba logrou
solidificar os objetivos da Revolução de 1959, passando de um país sem
soberania, dominado pelo imperialismo norte-americano em conluio com a
burguesia local representada por governos corruptos e refúgio de mafiosos, a uma
das nações mais igualitárias do mundo, onde direitos sociais são universais, a
miséria e o analfabetismo foram erradicados, a educação, a saúde, a cultura, o
esporte e o lazer são gratuitos e de qualidade, conferindo a Cuba índices de
primeiro mundo no que se refere à qualidade de vida.
A queda do bloco comunista, todavia, abalou
consideravelmente essa superestrutura, fazendo muitos pensar que o socialismo
havia chegado ao fim e que Cuba estaria arruinada. O socialismo cubano não
chegou ao fim, muito ao contrário, ainda é o maior expoente de luta contra o
capital que conhecemos, muito embora sobreviva com graves mazelas às
dificuldades econômicas que se seguiram à deterioração dos serviços públicos.
A introdução da pequena propriedade privada
concorre para criar desigualdades sociais, o que, no entanto, nem de longe
significa a exploração de uma classe sobre outra. Todavia, a grande coesão
social com a qual toda população trabalhava em prol da sociedade foi abalada,
pois agora muitos trabalham individualmente pelo seu futuro, e não de forma
coletiva para o futuro de todos.
As novas gerações não conviveram com os dias
gloriosos da Revolução, mas ao contrário, vivem numa conjuntura econômica e
social debilitada e sob influência da sociedade de consumo propagandeada pelas
rádios e TV`s norte-americanas que chegam a Cuba. Soma-se a isso o contato com
pessoas de outros países, devido à abertura ao turismo, que alimenta os seus
sonhos materiais.
Os desafios para Cuba manter as conquistas da
Revolução são grandes, embora o Estado e o Partido Comunista Cubano mantenham
em bases sólidas essa premissa. O mais importante é que a democracia social e o
sistema socialista não estão ancorados num governo, ou numa elite, mas sim em
todo o povo.
A Revolução Cubana é um orgulho para todos, o que
lhe confere legitimidade e fôlego para enfrentar estes desafios, e da mesma
forma que Cuba reflete mais nitidamente os problemas impostos aos países da
América Latina, é lá também que a democracia assume sua forma mais nítida, mas
apenas para quem sabe enxergar.
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SADER,
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