segunda-feira, 23 de maio de 2011

Professora Amanda Gurgel silencia Deputados em audiência pública.


Depoimento Resumindo o quadro da Educação no RN. Qualquer semelhança com o seu Estado terá sido mera coincidência?? Reflitam







terça-feira, 17 de maio de 2011

A Ideologia Alemã

FICHAMENTO DE TEXTO


MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. 2ª Ed. Editorial Presença. Portugal, 1932.
 
Volume I
1.FEUERBACH – Oposição entre a concepção materialista e a idealista
1.1 De acordo com certos ideólogos alemães, a Alemanha teria sido nestes últimos anos o teatro de uma revolução sem precedentes.
1.2 O processo de decomposição do sistema hegeliano, iniciado com Strauss, teria dado origem a uma fermentação universal para a qual teriam sido arrastadas todas as «potências do passado».

2.A ideologia em geral e a ideologia alemã em particular
2.1 Toda a crítica filosófica alemã desde Strauss até Stirner limita-se a criticar representações religiosas. Partiu-se da verdadeira religião e da teologia propriamente dita;
2.2 O desenvolvimento do tema consistiu em subordinar igualmente à esfera das representações religiosas ou teológicas as representações metafísicas, políticas, jurídicas, morais e outras que se consideravam predominante;
2.3 Proclamava-se que a consciência política, jurídica e moral é uma consciência religiosa ou teológica e que o homem político e moral, o homem em última instância é religioso;
2.4 Postulou-se o domínio da religião, e pouco a pouco se declarou que todas as relações dominantes são relações religiosas;
2.5 Os jovens hegelianos criticaram tudo, substituindo as coisas por representações religiosas ou proclamando-as teológicas.
2.6 Como na sua imaginação, as relações entre os homens, todos os seus atos e os seus gestos, as suas cadeias e os seus limites, são produtos da consciência, os jovens-hegelianos, coerentes consigo mesmos, propõem aos homens este postulado moral: substituir a sua consciência atual pela consciência humana crítica ou egoísta e, ao fazê-lo, abolir os seus limites;
2.7 Não perguntam qual a relação entre a filosofia alemã e a realidade alemã, a relação entre a sua crítica e o seu próprio meio material.

3.A ideologia alemã; em especial, a filosofia alemã
3.1 As premissas não constituem dogmas; são antes bases reais de que só é possível abstrair no âmbito da imaginação. As premissas do materialismo são os indivíduos reais, a sua ação e as suas condições materiais de existência;
3.2 Ao produzirem os seus meios de existência, os homens produzem indiretamente a sua própria vida material;
3.3 A forma como os homens produzem esses meios depende da natureza, isto é, dos meios de existência já elaborados e que lhes é necessário reproduzir;
3.4 O modo de produção constitui um modo determinado de atividade de tais indivíduos, uma forma determinada de manifestar a sua vida, um modo de vida determinado;
3.5 A forma como os indivíduos manifestam a sua vida reflete aquilo que são;
3.6 O que são coincide, portanto com a sua produção, isto é, tanto com aquilo que produzem como com a forma como produzem;
3.7 As relações entre os indivíduos são condicionadas pela produção
3.8 As relações entre as diferentes nações dependem do estádio de desenvolvimento das forças produtivas, da divisão de trabalho e das relações internas em cada uma delas
3.9 A divisão do trabalho numa nação obriga em primeiro lugar à separação entre o trabalho industrial e comercial e o trabalho agrícola; e, como conseqüência, à separação entre a cidade e o campo e à oposição dos seus interesses.
3.10 Os vários estágios de desenvolvimento da divisão do trabalho representam outras tantas formas diferentes de propriedade
• 1º propriedade da tribo – corresponde ao tipo rudimentar de produção – divisão do trabalho natural, no âmbito da família/ a estrutura social é uma extensão da estrutura familiar
• 2º propriedade comunitária e a propriedade estatal – reunião de várias tribos numa única cidade/ a par da propriedade comunitária desenvolve-se a propriedade privada mobiliária e mais tarde a imobiliária; mas desenvolve-se ainda como uma forma anormal e subordinada à propriedade comunitária / a estrutura social desagrega-se na medida em que se desenvolve a propriedade privada imobiliária
• 3º propriedade feudal ou por ordens/ propriedade fundiária/ novas relações campo/cidade
3.11 A estrutura social e o Estado resultam constantemente do processo vital de indivíduos determinados; mas não resultam daquilo que estes indivíduos aparentam perante si mesmos ou perante outros e sim daquilo que são na realidade, isto é, tal como trabalham e produzem materialmente;
3.12 A produção de idéias, de representações e da consciência está em primeiro lugar direta e intimamente ligada à atividade material e ao comércio material dos homens; é a linguagem da vida real;
3.13 O mesmo acontece com a produção intelectual quando esta se apresenta na linguagem das leis, política, moral, religião, metafísica, etc., de um povo;
3.14 São os homens, condicionados pelo desenvolvimento das forças produtivas, que produzem as suas representações e suas idéias;
3.15 A consciência nunca pode ser mais do que o Ser consciente; e o Ser dos homens é o seu processo da vida real;
3.16 A moral, a religião, a metafísica e qualquer outra ideologia, tal como as formas de consciência que lhes correspondem, perdem imediatamente toda a aparência de autonomia;
3.17 Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência.

4.A História
4.1 Feuerbach: a concepção do mundo visível limita-se, por um lado, à simples contemplação deste último e, por outro, ao simples sentimento
4.2 Não vê que o mundo sensível em seu redor não é objeto dado diretamente para toda a eternidade, e sempre igual a si mesmo, mas antes o produto da indústria e do estado da sociedade, isto é, um produto histórico
4.3 Os objetos da mais simples “certeza sensível” só são dados a Feuerbach através do desenvolvimento social, da indústria e das trocas comerciais;
4.4 A indústria e o comércio, a produção e a troca das necessidades vitais condicionam a distribuição, a estrutura das diferentes classes sociais, sendo por sua vez, condicionadas por elas no seu modo de funcionamento;
4.5 Feuerbach percebe que o homem é também um “objeto sensível” e não como “atividade sensível”, pois nesse ponto ainda se agarra à teoria e não integra os homens no seu contexto social, nas suas condições de vida que fizeram deles o que são;
4.6 Não critica as atuais condições de vida, não consegue apreender o mundo sensível como a soma da atividade viva e física que o compõem - idealismo puro;
4.7 Enquanto materialista, nunca faz intervir a história; e quando aceita a história, não é materialista. Nele, história e o materialismo são coisas completamente separadas.
4.8 Pressupostos históricos da existência humana não assimilados pelos alemães:
• O primeiro fato histórico é, pois a produção dos meios que permitem satisfazer essas necessidades, a produção da própria vida material; trata-se de um fato histórico, de uma condição fundamental de toda a história, que é necessário, tanto hoje como há milhares de anos, executar dia a dia para manter os homens vivos;
• Uma vez satisfeita a primeira necessidade, a ação de satisfazê-la e o instrumento utilizado para tal conduzem a novas necessidades e essa produção de novas necessidades constitui o primeiro fato histórico;
• Terceiro aspecto que intervém diretamente no desenvolvimento histórico é o fato de os homens, que em cada dia renovam a sua própria vida, criarem outros homens, reproduzirem-se; é a relação entre o homem e a mulher, os pais e filhos, a família, que é inicialmente a única relação social, transformam-se numa relação subalterna quando o acréscimo da população dá origem a novas necessidades; deve abordar e desenvolver esse tema da família a partir dos fatos empíricos existentes;
• Um determinado modo de produção ou estágio de desenvolvimento industrial se encontra permanentemente ligados a um modo de cooperação ou a um estado social determinados, e que esse modo de cooperação é ele mesmo uma "força produtiva”; segue-se que o conjunto das forças produtivas acessíveis ao homem determina o estado social e que se deve consequentemente estudar e elaborar a “história dos homens” em estrita relação com a história da indústria e das trocas.

5 A consciência é, pois um produto social e continuará a sê-lo enquanto houver homens, é antes de tudo, a consciência do meio sensível imediato e de uma relação limitada com outras pessoas e outras coisas situadas fora do indivíduo que toma consciência;
5.1 A consciência gregária e tribal desenvolve-se e aperfeiçoa-se posteriormente devido ao aumento da produtividade, das necessidades e da população, que constitui aqui o fator básico;
5.2 É desse modo que se desenvolve a divisão do trabalho, que só surge efetivamente a partir do momento em que se opera uma divisão entre o trabalho material e intelectual
5.3 A partir desse instante ela encontra-se em condições de se emancipar do mundo e de passar à formação da teoria “pura”, teologia, filosofia, moral, etc.;
5.4 Quando esse conjunto entra em contradição com as relações existentes, isso deve-se apenas ao fato de as relações sociais existentes terem entrado em contradição com a força produtiva existente;
5.5 Através da divisão do trabalho torna-se possível que a atividade intelectual e material, o gozo e o trabalho, a produção e o consumo, caibam a indivíduos distintos; então a possibilidade de que esses elementos não entrem em conflito reside unicamente na hipótese de acabar de novo com a divisão do trabalho;
5.6 Distribuição desigual tanto em qualidade quanto em quantidade; dá, portanto origem à propriedade, cuja primeira forma, o seu germe, reside na família, onde a mulher e as crianças são escravas do homem;
5.7 Divisão do trabalho e propriedade privada são expressões idênticas, a primeira enuncia-se relativamente à atividade, a Segunda, ao produto dessa atividade;
5.8 Esta contradição entre o interesse particular e o interesse coletivo que faz com que o interesse coletivo adquira, na qualidade de Estado, uma forma independente, separada dos interesses reais do indivíduo e do conjunto e tome simultaneamente a aparência de comunidade ilusória, mas sempre sobre a base concreta dos laços existentes em cada conglomerado família e tribal, tais como laços de sangue, língua, divisão do trabalho em larga escala e outros interesses;
5.9 Interesses que ressaltam os interesses de classe já condicionadas pela divisão do trabalho;
5.10 Decorre que todas as lutas no seio do Estado, a luta entre a democracia, a aristocracia e a monarquia, a luta pelo direito do voto, etc., são apenas formas ilusórias que encobrem as lutas efetivas das diferentes classes entre si.

6 Alienação - desde o momento que o trabalho começa a ser repartido, cada indivíduo tem uma esfera de atividade que lhe é imposta e da qual não pode sair
6.1 Esta fixação da atividade social, esta petrificação do nosso próprio trabalho num poder objetivo que nos domina e escapa ao nosso controle contrariando a nossa expectativa e destruindo os nossos cálculos, é um dos momentos capitais do desenvolvimento histórico até aos nossos dias;
6.2 Esta alienação só pode ser abolida mediante duas condições práticas: é necessário que tenha dado origem a uma massa de homens totalmente “privada de propriedade”, que se encontre simultaneamente em contradição com um mundo de riqueza e de cultura com existência real / é através do desenvolvimento universal das forças produtivas que é possível estabelecer um intercâmbio universal entre os homens.

7 O comunismo não é um estado que deva ser implantado, nem um ideal a que a realidade deva obedecer, mas um movimento real que acaba com o atual estado de coisas.

8 É a sociedade civil o verdadeiro lar, o verdadeiro cenário de toda a história. Consideramos apenas um aspecto da atividade humana: o trabalho dos homens sobre a natureza. O outro aspecto, o trabalho dos homens sobre os homens. Origem do Estado e a relação do Estado com a sociedade;
8.1 Cada geração continua, por um lado, o modo de atividade quer lhe foi transmitido, mas em circunstâncias radicalmente transformadas e, por outro, modifica as antigas circunstâncias dedicando-se a uma atividade radicalmente diferente;
8.2 Quanto mais as esferas individuais, que atuam uma sobre a outra, aumentam no decorrer desta evolução, e mais o isolamento primitivo das diversas nações sé destruído pelo aperfeiçoamento do modo de produção, pela circulação e a divisão do trabalho entre as nações que daí resulta espontaneamente, mas a história se transforma em história mundial.

9 No desenvolvimento das forças produtivas atinge-se um estágio em que surgem forças produtivas e meios de circulação que só podem ser nefastos no âmbito das relações existentes... Nasce no decorrer desse processo uma classe que suporta todo o peso da sociedade sem desfrutar das suas vantagens... Classe da qual surge a consciência da necessidade de uma revolução, consciência essa que é a consciência comunista;
9.1 As condições em que se podem utilizar forças produtivas determinadas são as condições de dominação de uma determinada classe da sociedade, o poder social dessa classe... Encontra regularmente a sua expressão prática sob forma idealista no tipo de Estado próprio de cada época;
9.2 Em todas as revoluções anteriores, permanecia inalterado o modo de atividade e procedia-se apenas a uma nova distribuição dessa atividade, a uma nova repartição do trabalho entre outras pessoas, a revolução, ao contrário, é dirigida contra o modo de atividade anterior;
9.3 Torna-se necessária uma transformação maciça dos homens para criar em massa essa consciência e levar a bom termo esses objetivos;
9.4 Essa concepção da história... Não tenta explicar a prática a partir da Idéia, mas sim a formação das idéias a partir da prática material; chega, portanto, à conclusão de que todas as formas e produtos da consciência podem ser resolvidos não pela crítica intelectual, pela redução à “consciência de si”... Mas unicamente pela destruição prática das relações sociais concretas de onde nasceram as bagatelas idealistas;
9.5 Crítica: aquilo que é propriamente histórico surge separado da vida ordinária, como extra e supra terrestre. As relações entre os homens e a natureza são assim excluídas da historiografia, o que dá origem à oposição entre natureza e história
9.6 Esta concepção só permitiu encontrar os grandes acontecimentos históricos ou políticos, as lutas religiosas e principalmente teóricas, e foi obrigada a partilhar com qualquer época histórica a ilusão dessa época;
9.7 Os alemães movem-se no domínio do “espírito puro” e fazem da ilusão religiosa a força motriz da história;
9.8 A verdadeira solução prática dessa fraseologia, a eliminação destas representações na consciência dos homens, só será realizada através de uma transformação das circunstâncias e não por deduções teóricas.

10 Feurbach: desenvolve a idéia de que o Ser de um objeto ou de um homem constitui igualmente a sua essência, de que as condições de existência, o modo de vida e a atividade determinada de uma criatura animal ou humana são aqueles com que a sua “ess6encia” se sente satisfeita.
10.1 Se existem milhões de proletários que não se sentem satisfeitos comas suas condições de vida, se o seu “Ser” não corresponde de forma alguma à sua “essência”, deveríamos considerar este fato como uma infelicidade inevitável que seria conveniente suportar tranqüilamente.... mas este sabe que a revolução é o caminho.....
10.2 É por isso que Feuerbach nunca fala do mundo dos homens e se refugia na natureza exterior, na natureza que o homem ainda não controlou;
10.3 Os pensamentos da classe dominantes são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes... A classe que tem o poder material dominante numa dada sociedade é também a potência dominante espiritual
10.4 Os pensamentos dominantes são apenas a expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas soba forma de idéias e, portanto, a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante... São as idéias de seu domínio
10.5 Têm posição dominante como seres pensantes, como produtores de idéias, que regulamentem a produção e a distribuição dos pensamentos da sua época, as suas idéias são, portanto, as idéias dominantes da sua época.

11 Divisão do trabalho: manifesta-se igualmente no seio da classe dominante sob a forma de divisão entre o trabalho intelectual e o trabalho material
11.1 Uns serão os pensadores dessa classe (ideólogos ativos ) e os outros têm uma atitude mais passiva e mais receptiva face a esses pensamentos e a essas ilusões, porque são, na realidade, os membros ativos da classe e dispõem de menos tempo para produzirem ilusões e idéias sobre as suas próprias pessoas
11.2 A existência de idéias revolucionárias numa época determinada pressupõe já a existência de uma classe revolucionária
11.3 Cada classe no poder é obrigada... Para atingir os seus fins, a representar o seu interesse como sendo o interesse comum a todos os membros da sociedade ou, exprimindo a coisa no plano das idéias, a dar aos seus pensamentos a forma da universalidade, a representá-los como sendo os únicos razoáveis, os únicos verdadeiramente válidos
11.4 Coloca os indivíduos em estado de poderem chegar à classe dominante... Revolução Francesa;
11.5 Toda a ilusão que consiste em pensar que o domínio de uma classe determinada é apenas o domínio de certas idéias, cessa naturalmente desde que o domínio de uma classe deixa de ser a forma do regime social, isto é, quando deixa de ser necessário representar um interesse particular como sendo o interesse geral ou de representar o “Universal” como dominante.

12 Hegel: “A filosofia da história” examina apenas o desenvolvimento do “Conceito”

13 Marx: regressa aos produtores “do conceito”, aos teóricos, ideólogos e filósofos, para chegar à conclusão de que os filósofos enquanto tais sempre dominaram na história – resultado que o próprio Hegel havia chegado

14 Na vida corrente, qualquer um sabe muito bem fazer a distinção entre aquilo que cada um pretende ser e aquilo que é realmente; mas a nossa história ainda não conseguiu chegar a esse conhecimento vulgar

15 Relativamente a cada época, a historiografia acredita plenamente naquilo que a época em questão diz de si mesma e nas ilusões que tem sobre si mesma
15.1 A maior divisão entre o trabalho material e o intelectual é a traduzida pela separação da cidade e do campo
15.2 A existência da cidade implica imediatamente a necessidade da administração, da polícia, dos impostos, ou seja, a necessidade da organização comunitária, partindo da política em geral
15.3 É ai que aparece em primeiro lugar a divisão da população em duas grandes classes, divisão essa que repousa diretamente na divisão do trabalho e nos instrumentos de produção
15.4 Essa oposição só pode existir no quadro da propriedade privada; é mis flagrante expressão da subordinação do indivíduo à divisão do trabalho, da subordinação a uma atividade determinada que lhe é imposta.

16 Cidades construídas antes da Idade Média: corporações/jornaleiros: estes trabalhadores, chegando às cidades isoladas, nunca conseguiram constituir uma força, pois o seu trabalho era da competência de uma dada corporação e devia ser aprendido, e então os mestres dessa corporação os submetiam às suas leis e organizavam-nos de acordo com os seus interesses,
16.1 O seu trabalho não exigia qualquer aprendizagem, não era de competência de qualquer corporação, era um trabalho de jornaleiro e nunca chegavam a constituir uma organização – plebe
16.2 Estas cidades formavam verdadeiras “associações” provocadas pelas necessidades imediatas, pelas preocupações de proteção da propriedade, e estavam a multiplicar os meios de produção e os meios de defesa dos seus membros individualmente considerados
16.3 A plebe não tinha qualquer organização
16.4 Os companheiros e aprendizes estavam organizados em cada profissão da forma que melhor servia os interesses dos mestres, as relações patriarcais que existiam entre eles e os mestres conferiam a estes últimos um poder duplo:
16.5 Influência direta sobre a vida dos oficiais; pelo ato destas relações representarem uma verdadeira ligação entre os companheiros que trabalhavam para um mesmo mestre, estes constituíam um bloco frente aos companheiros ligados a outros mestres, o que os separava; os companheiros já estarem ligados ao regime existente pelo simples fato de terem interesse em chegar a mestres
16.6 Enquanto a plebe se lança em alguns motins, os oficiais nunca ultrapassaram pequenas rebeliões no interior de corporações isoladas
16.7 As grandes sublevações da Idade Média partiram do campo, e todas elas falharam devido à dispersão dos camponeses.

17 O capital era um capital natural que consistia em alojamento, instrumentos e uma clientela natural hereditária, e transmitia-se necessariamente de pais para filhos dado o estado ainda embrionário das trocas e a falta de circulação que impossibilitava a realização desse capital.

18 A divisão do trabalho efetuava-se ainda de uma forma perfeitamente espontânea entre as diferentes corporações mas não existia entre os operários tomados isoladamente no interior das próprias corporações; cada trabalhador devia estar apto a exercer todo o ciclo do trabalho

19 O seqüente desenvolvimento da divisão de trabalho traduziu-se pela separação entre a produção e o comércio, a formação de uma classe particular de comerciantes, separação essa que já era fato nas cidades antigas e que depressa surgiu nas cidades de formação recente

20 As cidades entram em relação entre si, transportam-se de uma cidade para outra instrumentos novos e a divisão da produção e do comércio suscita rapidamente uma nova divisão da produção entre as diferentes cidades cada uma a explorar um determinado ramo da indústria

21 Necessidade de criar todos os dias cada invenção e fazê-lo em cada localidade de uma forma independente – incessantes invasões e destruições

22 A divisão do trabalho entre as diferentes cidades teve como primeira conseqüência o nascimento das manufaturas, ramos da produção que escapavam ao sistema corporativo – a tecelagem foi a primeira e principal atividade manufatureira

23 Transformação nas relações de propriedade, mobilização de grande massa de capital primitivo e aumento do capital móvel relativamente ao capital primitivo

24 Coma s manufaturas, as diferentes nações entram em concorrência, numa luta comercial que se efetuou através de guerras, de direitos alfandegários e de  proibições... O comércio passa a ter um significado político

25 Modificação nas relações entre trabalhador e empregador: relações patriarcais substituídas por relações monetárias

26 O comércio e a manufatura criaram a grande burguesia

27 O direitos alfandegários dos senhores feudais foram substituídos por impostos  citadinos como meio de armazenar dinheiro

28 Estas medidas tomam um novo significado com o aparecimento do ouro e da prata americanos nos mercados europeus

29 A manufatura obtinha garantias constantes no mercado nacional através de direitos protetores da concessão de monopólios no mercado colonial, e, para o exterior, mediante alfândegas diferenciais;

30 A concentração do comércio e da indústria num único país, a Inglaterra, tal como se desenvolveu sem interrupção no século XVII, criou progressivamente para esse país um mercado mundial razoável e suscitou por isso uma procura dos produtos ingleses manufaturados que as forcas produtivas industriais anteriores já não podiam satisfazer;

31 Apesar das medidas de proteção, a grande indústria tornou a concorrência universal, estabeleceu os meios de comunicação e o mercado mundial moderno, colocou o comércio sob o seu domínio, transformou todo o capital em capital industrial e deu assim origem à circulação e à rápida centralização dos capitais

32 Aniquilou o mais possível a ideologia, a religião, a moral, e sempre que isso não lhe era possível, transformou-as em flagrantes mentiras

33 Subordinou a ciência da natureza ao capital e retirou à divisão do trabalho a sua última aparência de fenômeno natural

34 Substituiu todas as relações naturais em monetárias

35 Em vez de cidades nascidas naturalmente criou-se cidades industriais / destruição de todas as formas anteriores da indústria

36 A grande burguesia surge com uma classe cujos interesses são os mesmos em todas as nações, acaba-se com os interesses nacionais particulares

37 Mas este fato não trava o movimento do proletariado

- esta contradição entre as forças produtivas e as formas de troca se produziu outras vezes, mas sem comprometer a base fundamental
- o comunismo distingue-se de todos os movimentos que o precederam pelo fato de alterar a base das relações de produção
- todas as apropriações revolucionárias anteriores foram limitadas – subordinação da propriedade a todos – apropriação da totalidade das forças produtivas.

sábado, 14 de maio de 2011

A bola está com você - Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes: O que você tem a ver com isto?

Por *Reginaldo de Souza Silva

Reginaldo de Souza Silva

Recente pesquisa da BBC de Londres identificou que o Brasil tem sido um dos 27 países que influencia positivamente o mundo. Entretanto, as vésperas de completarmos 21 anos da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente lei 8069/90, dezesseis anos do início da Campanha para o Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, o quadro de proteção a população infanto-juvenil não faz jus a esta constatação. No país do futebol, do carnaval, da corrupção, do sucateamento da educação continuamos com a temática da exploração e violência sexual contra crianças e adolescentes.
Os números mostram o inferno a que estão submetidas as nossas crianças. Dados do Disque Denúncia Nacional (Disque 100) indicam que, desde maio de 2003 até março deste ano, foram feitas mais de 63 mil denúncias de abuso. A Bahia é o Estado que registra mais ligações (7.708), seguido por São Paulo (7.297) e Rio de Janeiro (5.563). Infelizmente, não há dados oficiais sobre o número exato de crianças e adolescentes que vivem essa realidade no país.
Em 2010 foram registrados 12.487 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. No primeiro trimestre de 2011, já houve 4.205 casos, sendo a maioria das vítimas do sexo feminino. Apesar de várias campanhas de combate à pedofilia, este parece ser um ano muito sombrio, as pessoas têm ignorado o assunto e por isso o demônio da pedofilia segue atuando, destruindo e aterrorizando muitas famílias, gerando sofrimento, pois há confusão, desinformação, medo e vergonha.
Há uma evolução, em 2006, registrou-se denúncias de 882 municípios, em 2010 foram de 4.886. Entre 2003 e 2010 o Disque 100 realizou um total de 2.556.775 atendimentos e encaminhou 145.066 denúncias de todo o país.
No Brasil e no mundo a pedofilia avança de forma preocupante na internet, são inúmeros os casos de denúncias, violência contra menores de idade seguidos de abuso sexual.
As pesquisas e registros constatam que cerca de 70% dos estupros ocorrem no âmbito familiar, as crianças normalmente começam a ser abusadas sexualmente aos 7 e 8 anos. Ao completar 12, 13 anos, elas começam a ter noção de sexualidade falam sobre o abuso com a mãe ou vizinhos. Se a vítima é criança, o caso é descoberto quando alguém flagra ou percebe o comportamento alterado dela.
Para intervir precisamos saber - Qual a diferença entre abuso sexual e exploração sexual? 
O abuso é qualquer ato que ofenda a pessoa, extrapolando os limites do desenvolvimento ou exercício autônomo e sadio de sua sexualidade, visando unicamente à satisfação de um desejo sexual próprio do agressor, ou seja, no abuso sexual, o agressor procura unicamente satisfazer seus desejos mediante a violência sexual. 
Por sua vez, a exploração é a obtenção de alguma vantagem, financeira ou não, diversa do prazer oriundo da violência. Caracteriza-se por ser uma relação mercantil, em que o agredido é considerado mera mercadoria. 
Mas afinal - Quem é o explorador?  É um criminoso comum.  Os principais violadores não são desconhecidos, são pessoas que vivem próximas ou, na maioria das vezes, aquelas em que a vítima mais confia. No Brasil, a cada oito minutos uma criança é vítima de abuso sexual. De acordo com o Ministério da Justiça, 60 mil crianças são violentadas sexualmente por ano e 82% têm entre 2 e 10 anos e, em 90% dos casos, o violador é um membro da família - pai biológico, padrasto, tios, avôs ou irmãos.
O quadro pode ser modificado portanto, A bola está com você - Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes: O que você tem a ver com isto? Tudo! O primeiro passo é não calar-se, porque tem coisas que não dá para fingir que não vê. Violência sexual contra crianças e adolescentes é crime.
Precisamos incentivar a denúncia, pois “Quem cala, consente” e buscarmos soluções conjuntas para o drama vivido por muitas meninas e meninos. Não basta ser apenas no período de carnaval, quando milhões de pessoas circulam pelas ruas das cidades ex: Salvador, Rio de Janeiro, Recife. Precisamos identificar e combater diariamente as redes interestadual e municipal de exploração sexual infanto-juvenil no Brasil.
Você pode contribuir na sua cidade procurando através dos Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, de Assistência Social, Delegacias de Polícia, Vara da Infância, CRAS e CREAS.  Quais afinal são as políticas públicas, visando à prevenção e o combate à rede exploratória, bem como a garantia do cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente em sua cidade?
É possível constatarmos que as mobilizações têm gerado denuncias, mas lamentavelmente a maioria dos municípios brasileiros não dispõe das Varas Criminais Especializadas da Infância e Juventude, impedindo a celeridade na apuração e julgamento dos crimes.
Precisamos saber - Quais os serviços disponíveis as vitimas e abusadores?
Setores apontados como facilitadores da exploração sexual nos Estados também tem sido sensibilizados ao longo das mobilizações, caminhoneiros, desestimulando o transporte de adolescentes e alertando para o perigo de facilitar a exploração de meninas, postos de gasolinas e bares em beira de estradas, entrada de cidades e casas noturnas.
Precisamos fortalecer as ações com o apoio do Governo do Estado, das Prefeituras Municipais e Universidades, incluindo a campanha em seus discursos e políticas oficiais, na formação continuada das Polícias Federal, Militar e Civil para assumirem papéis estratégicos no enfrentamento da questão e, também, os profissionais da Educação tem papel importantíssimo nesta luta, desenvolvendo ações de formação, prevenção e orientação das famílias, dos alunos e da comunidade.
 
*Reginaldo de Souza Silva – Doutor em Educação Brasileira, professor do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas e coordenador do Núcleo de Estudos da Criança e do Adolescente – NECA/UESB. Email: necauesb@yahoo.com.br

domingo, 8 de maio de 2011

Um Discurso sobre as Ciências

FICHAMENTO DE TEXTO


SANTOS, Boaventura de Sousa. Um Dircurso sobre as Ciencias. 7ª ed. Edições Afrontamento – Porto, 1995.

1.Ao analisar a situação presente das ciências no seu conjunto, olhando para o passado, a primeira imagem é a de que os progressos científicos dos últimos trinta anos são de tal ordem dramáticos que os séculos que nos precederam não são mais que uma pré-história longínqua.
1.1 Os grandes cientistas que estabeleceram e mapearam o campo teórico em que ainda hoje nos movemos viveram ou trabalharam entre o século XVIII e os primeiros vinte anos do século XX:
• De Adam Smith e Ricardo a Lavoisier e Darwin
• De Marx e Durkheim a Max Weber e Pareto
• De Humboldt e Planck a Poincaré e Einstein
1.2 Em termos científicos vivemos ainda no século XIX e o século XX ainda não começou, nem talvez comece antes de terminar.
1.3 Centrando o olhar no futuro, duas imagens contraditórias nos ocorrem alternadamente:
• As potencialidades da tradução tecnológica dos conhecimentos acumulados fazem-nos crer no limiar de uma sociedade de comunicação e interativa libertada das carências e inseguranças;
• Uma reflexão cada vez mais aprofundada sobre os limites do rigor científico combinada com os perigos cada vez mais verossímeis da catástrofe ecológica ou da guerra nuclear.

2.Teoria sinergética do físico Hermann Haken – vivemos num sistema visual muito instável em que a mínima flutuação da nossa percepção visual provoca rupturas no sistema do que vemos.
2.1 A complexidade da situação do tempo presente, um tempo de transição, sincrone com muita coisa que está além ou aquém dele, mas descompassado em relação a tudo o que habita.
2.2 É necessário voltar às coisas simples, à capacidade de formular perguntas simples que são capazes de trazer uma nova luz à nossa perplexidade.

3 Jean-Jacques Rousseau: o progresso das ciências e das artes contribuirá para purificar ou corromper os nossos costumes?
3.1Há alguma relação entre a ciência e a virtude?
3.2 Há alguma razão de peso para substituir o conhecimento vulgar que temos da natureza e da vida e que partilhamos com os homens e com as mulheres da nossa sociedade pelo conhecimento científico produzido por poucos e inacessível à maioria?
3.3 Contribuirá a ciência para diminuir o fosso crescente na nossa sociedade entre o que se é e o que se apresenta ser, o saber dizer e o saber fazer, entre a teoria e a prática?

4.Meados do século XVIII – fase de transição entre a ciência moderna e a ordem científica emergente.
4.1 Urgências de dar respostas as perguntas simples, elementares, inteligíveis.
4.2 É necessário um esforço de desvendamento conduzido sobre um fio condutor de navalha entre a lucidez e a ininteligibilidade da resposta.
4.3 Hipóteses de trabalho, balizadoras do percurso analítico:
• Deixar de fazer sentido a distinção entre ciências naturais e ciências sociais;
• A síntese que há que operar entre elas tem como pólo catalisador as ciências sociais;
• As ciências sócias terão de recusar todas as formas de positivismo lógico ou empírico ou de mecanismos materialistas ou idealistas com a conseqüente revalorização dos estudos humanísticos;
• Esta síntese visa um conjunto de galerias temáticas onde convergem objetos teóricos estanques;
• A distinção hierárquica entre conhecimento científico e conhecimento vulgar tenderá a desaparecer e a prática será o fazer e o dizer da filosofia da prática.

5.O paradigma dominante
5.1 O modelo de racionalidade que preside à ciência moderna é o chamado modelo global, a nova racionalidade científica:
• Que admite variedade interna, mas que se distingue e defende, por via de fronteiras ostensivas e ostensivamente policiadas de duas formas de conhecimento não científico, potencialmente perturbadoras e intrusas: o senso comum e as chamadas humanidades;
• É também um modelo totalitário, na medida em que nega o caráter racional a todas as formas de conhecimento que se não pautarem pelos seus princípios epistemológicos e pela suas regras metodológicas;
• Está consubstanciada, com crescente definição, na teoria heliocêntrica do movimento dos planetas de Copérnico, nas leis de Kleper sobre as órbitas dos planetas, nas leis de Galileu sobre a queda dos corpos, na grande síntese da ordem cósmica de Newton e finalmente na consciência filosófica que lhe confere Bacon e Descartes.

6.Essa nova visão da vida e do mundo reduz-se a duas distinções fundamentais, entre o conhecimento científico e o conhecimento do senso comum, por um lado, e entre natureza e pessoa humana por outro.
6.1 Ao contrario da ciência aristotélica, a ciência moderna desconfia sistematicamente das evidencias da nossa experiência imediata. Tais evidencias estão na base do conhecimento vulgar, são ilusórias.6.2 A natureza é tão só extensão e movimento; é passiva, eterna e reversível, mecanismo cujos elementos se podem desmontar e depois relacionar sob a forma de leis.
6.2 Com base nesses pressupostos o conhecimento científico avança pela observação descomprometida e livre, sistemática e tanto quanto possível rigorosa dos fenômenos naturais.
6.3 As idéias que presidem à observação e à experimentação são as idéias claras e simples a partir das quais se pode ascender a um conhecimento mais profundo e rigoroso da natureza.
6.4 A matemática fornece à ciência moderna, não só o instrumento privilegiado de análise, como também a lógica da investigação, como ainda o modelo de representação da própria estrutura da matéria:
• Em primeiro lugar conhecer significa quantificar. O rigor científico afere-se pelo rigor das medições. O que não é quantificável é cientificamente irrelevante;
• O método científico assenta na redução da complexidade. O mundo é complicado e a mente humana não o pode compreender completamente. Conhecer significa dividir e classificar para depois determinar relações sistemáticas entre o que se separou.

7.A natureza teórica do conhecimento científico decorre dos pressupostos epistemológicos e das regras metodológicas já referidas.
7.1 A descoberta das leis da natureza se assenta, por um lado, no isolamento das condições iniciais relevantes, e, por outro lado, no pressuposto de que o resultado se produzirá independentemente do lugar e do tempo em que se realizaram as condições iniciais.
7.2 As leis da ciência moderna são um tipo de causa formal que privilegia o como funciona as coisas em detrimento de qual o agente ou qual o fim das coisas. É por essa via que o conhecimento científico sempre rompe com o senso comum.
7.3 Tal visão de mundo tenha vindo a constituir um dos pilares da idéia de progresso que ganha corpo no pensamento europeu a partir do século XVIII e que é o grande sinal intelectual da ascensão da burguesia.

8.Tal como foi possível descobrir as leis da natureza, seria igualmente possível descobrir as leis da sociedade:
• Bacon afirma a plasticidade da natureza humana e, portanto, sua perfectibilidade, dadas as condições sociais, jurídicas e políticas adequadas, condições que é possível determinar com rigor;
• Vico sugere a existência de leis que governam deterministicamente à evolução das sociedades e tornam possível prever os resultados das ações coletivas e tornam possível prever os resultados das ações coletivas.
8.1 No século XVIII esse espírito precursor é ampliado e aprofundado e o fermento intelectual que daí resulta, as luzes, vai criar as condições para a emergência das ciências sociais no século XIX.
8.2 A consciência filosófica da ciência moderna, que tivera no racionalismo cartesiano e no empirismo baconiano as suas primeiras formulações, veio a condensar-se no positivismo oitocentista.
8.3 Duas vertentes principais distinguem o modelo mecanicista:
• A primeira constitui em aplicar, na medida do possível, ao estudo da sociedade de todos os princípios epistemológicos e metodológicos que presidiam ao estudo da natureza desde o século XVI;
• A segunda, durante muito tempo marginal, mas hoje cada vez mais seguida, consistiu em reivindicar para as ciências sociais o estatuto epistemológico e metodológico próprio, com base na especificidade do ser humano e sua distinção polar em relação à natureza.
8.4 Para estudar os fenômenos sociais como se fossem fenômenos naturais, como pretendia Durkheim, é necessário reduzir os fatos sociais às suas dimensões externas, observáveis e mensuráveis.
8.5 As ciências sociais tem um longo caminho a percorrer no sentido de se compatibilizarem com os critérios de cientificidade das ciências naturais.
8.6 As ciências sociais não são objetivas porque o cientista social não pode libertar-se, no ato de observações, dos valores que informam a sua prática em geral e, portanto, também a sua prática de cientista.
8.7 A idéia de atraso das ciências sociais é a idéia central da argumentação metodológica nesta variante, e, com ela, a idéia de que esse atraso, com tempo e dinheiro, poderá vir a ser reduzido ou mesmo eliminado.
8.8 Enquanto nas ciências naturais, o desenvolvimento do conhecimento tornou possível a formulação de um conjunto de princípios e de teorias sobre as estruturas da matéria que são aceites sem discussão por toda a comunidade científica, conjunto esse que designa por paradigma, nas ciências sociais não há consenso paradigmático, pelo que o debate, tendo que atravessar verticalmente toda a espessura do conhecimento adquirido.
8.9 O comportamento humano, ao contrário dos fenômenos naturais, não pode ser descrito e muito menos explicado com base nas suas características exteriores e objetiváveis, uma vez que o mesmo ato externo pode corresponder a sentidos de ação muito diferentes.

9.A crise do paradigma dominante
9.1 O modelo de racionalidade científica passa por uma profunda e irreversível crise.
9.2 A crise do paradigma dominante é o resultado interativo de uma pluralidade de condições sociais e teóricas.
9.3 Uns dos pensamentos mais profundos de Einstein é o da relatividade da simultaneidade. Ele distingue entre a simultaneidade de acontecimentos presentes no mesmo lugar e a simultaneidade de acontecimentos distantes, em particular de acontecimentos separados por distancias astronômicas. O primeiro rombo no paradigma da ciência moderna.
9.4 Não havendo simultaneidade universal, o tempo e o espaço absolutos de Newton deixam de existir.
9.5 O caráter local das medições, e, portanto, do rigor do conhecimento que com base neles se obtém, vai inspirar o surgimento da segunda condição teórica da crise do paradigma dominante, a mecânica quântica.
9.6 Heisenberg e Bohr demonstram que não é possível observar ou medir um objeto sem interferir nele, sem o alterar, e a tal ponto que o objeto que sai de um processo de medição não é o mesmo que lá entrou.
9.7 O rigor da medição posto em causa pela mecânica quântica será ainda mais profundamente abalado se questionar o rigor do veículo formal em que a medição é expressa, ou seja, o rigor da matemática. É isso o que sucede com as investigações de Gödel e que por essa razão considero serem a terceira condição da crise do paradigma.
9.8 Se as leis da natureza fundamentam o seu rigor no rigor das formalizações matemáticas em que se expressam, as investigações de Gödel vem demonstrar que o rigor da matemática carece ele próprio de fundamento.
9.9 A quarta condição teórica da crise do paradigma newtoniano é constituída pelos avanços do conhecimento nos domínios da microfísica, da química e da biologia nos últimos vinte anos.

10. A teoria de Prigogine recupera inclusivamente conceitos aristotélicos tais como os conceitos de potencialidades e virtualidade que a revolução científica do século XVI parecia ter atirado definitivamente para o lixo da história.
10.1Depois da euforia cientista XIX e da conseqüente aversão à reflexão filosófica, bem simbolizada pelo positivismo, chegamos a finais do século XX possuídos pelo desejo quase desesperado de complementarmos o conhecimento das coisas.
10.2 A análise das condições sociais, dos contextos culturais, dos modelos organizacionais da investigação científica, antes acantonada no campo separado e estanque da sociologia da ciência, passou a ocupar papel de relevo na reflexão epistemológica.
10.3 São questionados os conceitos de lei e o conceito de causalidade que lhe está associado:
• A noção de lei tem vindo a ser parcial e sucessivamente substituída pelas noções de sistema, de estrutura, de modelo e, por ultimo, pela noção de processo.
• A relativização do conceito de causa parte do reconhecimento de que o lugar central que ele tem ocupado na ciência moderna se explica menos por razões ontológicas ou metodológicas do que por razões pragmáticas.
• O causalismo, enquanto categoria de inteligibilidade do real tem vindo a perder terreno em favor do finalismo.
10.4 O rigor científico porque fundado no rigor matemático, é um rigor que quantifica e que, ao quantificar, desqualificar, um rigor que, ao objetivar os fenômenos, os objetualiza e os degrada, que ao caracterizar os fenômenos, os caracteriza.
10.5 A precisão é limitada porque, se é verdade que o conhecimento só sabe avançar pela via da progressiva parcelização do objeto, bem representada nas crescentes especializações da ciência, é exatamente por essa via que melhor se confirma a irredutibilidade das totalidades orgânicas ou inorgânicas às partes que as constituem e, portanto, o caráter distorcivo do conhecimento centrado na observação destas últimas.
10.6 As idéias da autonomia da ciência e do desinteresse do conhecimento científico, que durante muito tempo constituíram a ideologia espontânea dos cientistas colapsaram perante o fenômeno global da industrialização da ciência a partir sobretudo das décadas de trinta e quarenta.
10.7 A industrialização da ciência acarretou o compromisso desta com os centros de poder econômico, social e político, os quais passaram a ter um papel decisivo na definição das prioridades científicas.
10.8 Pautadas pelas condições teóricas e sociais a crise do paradigma da ciência moderna não constitui um pântano cinzento de ceticismo ou irracionalismo, é antes o retrato de uma família intelectual numerosa e isntavel, mas também criativa e fascinante.
10.9 A caracterização da crise paradigmática dominante traz consigo o perfil do paradigma emergente.

11.A natureza da revolução científica que ocorreu numa sociedade ela própria revolucionada pela ciência, o paradigma a emergir dela não pode ser apenas um paradigma científico, tem de ser também um paradigma social.
11.2 A distinção dicotômica entre ciências naturais e ciências sociais deixou de ter sentido e utilidade, e se assenta numa concepção mecanicista da matéria e da natureza a que contrapõe, com pressuposta evidencia, os conceitos de ser humano, cultura e sociedade.
11.3 E quer num quer noutro reconhecem-se propriedades e comportamentos antes considerados específicos dos seres humanos e das relações sociais.
11.4 Todas essas teorias introduzem na matéria os conceitos de historicidade e de processo, de liberdade, de autodeterminação e até de consciência que antes o homem e a mulher tinham reservado para si.
11.5 O inanimado não era uma qualidade diferente mas apenas um caso limite, que a distinção corpo/alma deixará de ter sentido e que a física e a psicologia acabariam por se fundir numa única ciência.
11.6 Convergentemente assiste-se a um renovado interesse pelo “inconsciente coletivo”, imanente à humanidade no seu todo, de Jung.
11.7 Capra ver em Jung uma das alternativas teóricas às concepções mecanicistas de Freud e Bateson afirma que enquanto Freud ampliou o conceito de mente para dentro é necessário agora ampliá-lo para fora.
11.8 São antes duas projeções, mutuamente envolventes, de uma realidade mais alta que não é nem matéria nem consciência. O conhecimento do paradigma emergente tende assim a ser um conhecimento não dualista, um conhecimento que se funda na superação das distinções tão familiares e óbvias que até há pouco considerávamos insubstituíveis, tais como natureza/cultura, natural/artificial, vivo/inanimado, mente/matéria, observador/observado, subjetivo/objetivo, coletivo/individual, animal/pessoa.
11.9 Num período de transição entre paradigmas, seja particularmente importante, do ponto de vista epistemológico, observar o que se passa nessas ciências.

12.A emergência de um novo naturalismo centrado no privilegiamento dos pressupostos biológicos do comportamento humano.
12.1 Numa reflexão mais profunda, atentaremos no conteúdo teórico das ciências que mais tem progredido no conhecimento da matéria, verificamos que a emergente inteligibilidade da natureza é presidida por conceitos, teorias, metáforas e analogias das ciências sociais.
12.2 Os conceitos de teleomorfismo, autopoesis, auto-organizaçao, potencialidade organizada, originalidade, individualidade, historicidade atribuem à natureza um comportamento humano.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Homenagem às MÃES!!!

Mãe
Mãe carinhosa, mãe dengosa

Mãe amiga, mãe irmã

Mãe sem ter gerado é a mãe de coração 
Mãe solidão,

Mãe de muitos, mãe de poucos

Mãe de todos nós, Mãe das mães
Mãe dos filhos
Mãe-pai: duas vezes mãe
Mãe lutadora e companheira

Mãe educadora, mãe mestra

Mãe analfabeta, sábia mãe
Mãe dos simples e dos pobres
Mãe dos que nada têm e dos que tudo têm
Mãe do silêncio, mãe comunicação
Mãe dos doentes e dos sãos
Mães dos que plantam e dos que colhem
Mãe de quem nada fez e de quem compra feito
Mãe de quem magoou e de quem perdoou

Mãe rica, mãe pobre
Mãe dos que já foram, mãe dos que ficaram
Mãe dos guerreiros e dos guerreados
Mãe que sorri, mãe que chora

Mãe que abraça e afaga
Mãe presente, mãe ausente
Mãe do sagrado, mãe da luz
Mãe de Jesus e mãe nossa.

Mãe, simplesmente mãe.

Feliz Dia das Mães!!!

domingo, 1 de maio de 2011

FICHAMENTO DE TEXTO: Positivismo

Löwy, Michael. Ideologia e Ciência Social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 1989.

CAPÍTULO II – POSITIVISMO

1 As três principais proposições teórico-metodológicas sobre a relação entre a ideologia e o conhecimento ou a ideologia e as ciências sociais:
  1.1 Positivismo
  1.2 Historicismo
  1.3 Marxismo

2 Observações gerais sobre o positivismo:
  2.1 A sua hipótese fundamental é a de que a sociedade humana é regulada por leis naturais ou por leis que tem todas as características das leis naturais, invariáveis, independentes da vontade e da ação humana.
  2.2 Os métodos e procedimentos para conhecer a sociedade são exatamente os mesmos que são utilizados para conhecer a natureza.
  2.3 Da mesma maneira que as ciências da natureza são ciências objetivas, neutras, livres de juízos de valor, de ideologias políticas, sociais e outras, as ciências sociais devem funcionar exatamente segundo esse modelo de objetividade científica.
  2.4 A idéia fundamental do método positivista é de que a ciência só pode ser objetiva e verdadeira na medida em que eliminar totalmente qualquer interferência de preconceitos ou prenoções.

3 A origem do Positivismo – como ele se desenvolve historicamente
 3.1 A idéia de uma ciência da sociedade, elaborada segundo o modelo científico natural, aparece particularmente no século XVIII.
 3.2 O Positivismo moderno é filho legítimo da filosofia das luzes.
 3.3 Tem num primeiro momento, uma visão social do mundo de dimensão utópica, crítica e até certo ponto, revolucionária.

4 Condorcet – Filósofo ligado à Enciclopédia
 4.1 Primeiro autor que se pode relacionar como Pai do Positivismo.
 4.2 Formula a idéia de que a ciência da sociedade, nas suas várias formas, deve tomar o caráter de uma matemática social, ser objeto de estudo matemático, numérico, preciso, rigoroso.
 4.3 Até aquele instante, considera que havia existido uma teoria da sociedade submetida aos preconceitos das classes poderosas.
 4.4 Contrário ao controle do conhecimento social pelas classes dominantes da época: clero, nobreza e Estado monárquico.
 4.5 Considera que, na marcha das ciências físicas os interesses e as paixões não perturbam, o mesmo deve ocorrer nas ciências da sociedade.
 4.6 Reconhece que o progresso do conhecimento era difícil, lento, porque “os objetos submetidos ao conhecimento social estavam nos interesses religiosos ou políticos”.
 4.7 O primeiro pensador que avança essa idéia de uma ciência natural da sociedade, objetiva e livre de preconceitos.

5 Saint-Simon – discípulo de Condorcet
 5.1 O primeiro a utilizar o termo positivo aplicado à ciência: ciência positiva.
 5.2 Pretendeu formular uma ciência da sociedade segundo o modelo biológico.
 5.3 Sua reflexão tem uma dimensão crítico-utópica.
 5.4 Sua análise, em sua fisiologia social, tem como finalidade demonstrar que certas classes sociais são parasitas do organismo social, referindo-se a aristocracia e ao clero.
 5.5 Sua fisiologia social tem uma força crítica de oposição à ordem estabelecida.
 5.6 Até os princípios do século XIX o positivismo tem um aspecto utópico-crítico, a mudança de direção só se dá depois de Saint-Simon através de Comte

6 Augusto Comte – continuador de Condorcet e Saint Simon
 6.1 Para Comte o pensamento tem que ser inteiramente positivo, dever-se-ia acabar com a dimensão revolucionária desse pensamento.
 6.2 Considera que Condorcet nunca chegou a descobrir as leis da sociologia devido a seus “preconceitos revolucionários”
 6.3 A palavra preconceito muda de função. Em sua fase utópica, o termo serve a uma função revolucionária e crítica.
 6.4 Com Comte, esse sentido muda, é o preconceito revolucionário de Condorcet, que apoiou a Revolução Francesa, ou revolucionário socialista de Saint-Simon.
 6.5 A luta contra os preconceitos muda radicalmente de função: de uma luta utópica, crítica, negativa, revolucionária, passa a ser uma luta conservadora.
 6.6 Formula a idéia de uma concepção de uma ciência natural, chamada inicialmente de física social.
 6.7 A física social é uma ciência cujo objeto de estudo são os fenômenos naturais, considerados no mesmo espírito que os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos.
 6.8 Considera uma tarefa importante de a sociologia explicar aos proletários essas leis invariáveis, porque são precisamente os proletários que precisam ser convencidos desse caráter natural da concentração indispensável das riquezas nas mãos dos chefes industriais.
 6.9 Segundo ele “graças ao positivismo os proletários reconhecerão, com a ajuda feminina, as vantagens da submissão e de uma digna irresponsabilidade”, submissão da mulher e dos proletários, resultando de leis naturais, invariáveis.
 6.10 O positivismo tende poderosamente, pela sua natureza, a consolidar a ordem pública pelo desenvolvimento de uma sábia resignação.
 6.11 A filosofia positiva que cria essa disposição se aplica a todos os campos, inclusive ao campo dos males políticos.
 6.12 Se essa sábia resignação for compartilhada por todos e a particularmente, pelo proletariado, teremos solidamente consolidado a ordem pública.
 6.13 Essa mudança de direção do positivismo, do campo crítico, utópico, negativo, revolucionário, para o campo conservador e legitimador da ordem estabelecida tem muito a ver com a situação histórica, a partir de 1830, quando a burguesia passa a ser a classe dominante na França.
 6.14 A partir desse momento ela deixa de ser uma classe contestadora, revolucionária, para se transformar em dominante, conservadora.

7 Durkheim – sociólogo no sentido pleno da palavra
 7.1 A fonte utilizada para formular o positivismo foi a economia política burguesa e a economia política clássica.
 7.2 Para ele, o objetivo da sociologia era estudar fatos que obedecem às leis sociais, leis invariáveis do mesmo tipo que as naturais, o método científico era o mesmo, bem como a busca da objetividade e da neutralidade.
 7.3 Ele considera que a sociedade não pode tomar posição por nenhuma doutrina social, nenhuma ideologia.
 7.4 A sociologia não é nem individualista nem socialista, e por princípio ela ignora essas teorias porque considera que elas não têm valo científico.
 7.5 Recomenda que o sociólogo deva fazer calar seus preconceitos e as suas paixões e com esse silêncio ele poderá iniciar o discurso objetivo da ciência.
 7.6 O cientista social deve pôr de lado sistematicamente todas as prenoções antes de começar a estudar a realidade social.
 7.7 A receita clássica do positivismo para resolver o problema da objetividade científica na ciência social, para resolver a contradição entre a existência de ideologias, utopias, visões sociais de mundo, a solução é um esforço do sociólogo para eliminar os elementos perturbadores.
 7.8 Para se libertar de seus preconceitos a primeira condição é reconhecer o que são preconceitos, prenoções, ideologias.
 7.9 Os próprios positivistas em nenhum momento lograram se libertar de seus próprios preconceitos e prenoções, conservadores, contra-revolucionários.
 7.10 Em “As Regras do Método Sociológico”, o próprio Durkheim se reconhece claramente em seus preconceitos conservadores.

8 Max Weber – não foi um autor no sentido positivista clássico
 8.1 Teve algumas divergências muito importantes com o positivismo e o único ponto em que ele converge com o pensamento positivista é na idéia da ciência social livre de juízos de valor.
 8.2 Teve como mestre o filósofo Rickert, o primeiro inspirador da idéia de que as ciências sociais e as ciências naturais têm métodos diferentes, em uma posição crítica ao positivismo. 
 8.3 Rickert partiu de uma observação fundamental para qualquer discussão científica: a realidade, por definição, é infinita; é impossível um conhecimento total da realidade.
 8.4 Considerando que a realidade é um conjunto infinito, para se realizar uma investigação é preciso trabalhar com dados finitos, relacioná-la a um objeto limitado, utilizando para tanto o método que ele chama de nomotétio  de estudo das leis ou idiográfico, que é o estudo dos fatos singulares.
 8.5 Cada fato social, histórico ou cultural é único, singular. Então há necessidade de um método que analise esse singular, o método idiográfico.
 8.6 Para Rickert toda ciência histórica e social implica necessariamente certos valores, que vão apontar o que é importante, e o que não é, o que merece ser estudado e o que não merece. São esses valores que definem o que deve ser considerado importante.
 8.7 Diante do problema: o que nos garante que esses fatos selecionados como importantes sejam efetivamente importantes? Rickert apresenta uma solução muito pouco consistente. Ele diz que os valores que servem para essa distinção são universais, aceitos por todos. Há um consenso geral, é um valor universal.
 8.8 Afirmava que não existe ciência social, cultural ou histórica, sem valores prévios e isso configurava, até certo ponto, uma ruptura com o positivismo.
 8.9 Max Weber, nega os valores universais, ele observa que cada nação, cada cultura, cada religião tem valores diferentes.
 8.10 Ele afirma que cada sujeito do conhecimento científico tem seus valores, suas próprias idéias sobre valores culturais.
 8.11 Ele considerava que se não houvesse valores no inicio do trabalho científico, não haveria produção científica, não se começaria a investigação porque não se saberia o que investigar.
 8.12 Esses valores que vão fornecer a problemática, isto é, as perguntas que serão feitas.
 8.13 Ele considera que, uma vez definido o objeto da investigação, o processo de investigação empírica que será desenvolvido está submetido a certas regras objetivas e universais da ciência, não dependem de valores.
 8.14 Os instrumentos conceituais usados dependem de valores mas, a maneira de usá-los para chegar à verdade se relaciona a regras gerais, universais, que valem para qualquer investigação.
 8.15 As pressuposições da pesquisa são subjetivas, dependem de valores, mas os resultados da investigação devem ser inteiramente objetivos, válidos para qualquer investigador, seja qual for o seu ponto de vista, suas pressuposições morais ou políticas.
 8.16 A partir da premissa da possibilidade de resultados livres de juízos de valor, Weber formulou uma espécie de imperativo categórico para os cientistas sociais: a separação, de maneira total e rigorosa dos juízos de fato e de valor, no processo de análise empírica da realidade.
 8.17 De valor – é impossível deduzir os fatos a partir dos valores: os valores podem inspirar nossa problemática – mas não podem servir de ponto de partida para deduzirmos uma análise crítica.
 8.18 De fato – não se pode deduzir os valores a partir dos fatos – se se fizer uma análise de fatos não se pode extrair daí conclusões morais, nem juízos de valor – a análise dos fatos não conduz de maneira lógica, a nenhuma conclusão política ou moral.
 8.19 Os fatos que são indicativos, e os valores que são imperativos, são esferas heterogêneas, que pertencem a universos distintos. O conhecimento dos fatos pode levar a tal ou qual opção política ou moral.
 8.20 Para Weber os juízos de valor, as ideologias, as visões sociais de mundo jogam um papel não só na seleção do objeto e na formulação da problemática, mas no conjunto da investigação científica, em todo o processo do conhecimento.
 8.21 Segundo ele, a própria problemática, já define em boa medida o conteúdo mesmo da investigação; o tipo de pergunta já dá cor política, ideológica, utópica, valorativa, ao conjunto da investigação.
 8.22 Lukács mostra como a problemática já define o conteúdo da investigação científica e o tipo de resposta possível.
 8.24 Weber resolve esse problema dizendo que isso é uma “debilidade humana”, uma fraqueza. Mas isso não o leva a nenhuma concepção ideológica de como escapar dessa fraqueza humana. O único remédio que ele propõe é “o dever elementar do controle científico de si mesmo”. Esse é o drama da teoria da ciência de Max Weber. Teoricamente constrói um sistema extremamente coerente e interessante, mas, acaba caindo no positivismo clássico princípio do Barão de Munchhausen.
 8.25 Apesar de sua honestidade científica indiscutível, Weber não conseguiu impedir a penetração de juízos de valor em sua obra.