domingo, 1 de maio de 2011

FICHAMENTO DE TEXTO: Positivismo

Löwy, Michael. Ideologia e Ciência Social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 1989.

CAPÍTULO II – POSITIVISMO

1 As três principais proposições teórico-metodológicas sobre a relação entre a ideologia e o conhecimento ou a ideologia e as ciências sociais:
  1.1 Positivismo
  1.2 Historicismo
  1.3 Marxismo

2 Observações gerais sobre o positivismo:
  2.1 A sua hipótese fundamental é a de que a sociedade humana é regulada por leis naturais ou por leis que tem todas as características das leis naturais, invariáveis, independentes da vontade e da ação humana.
  2.2 Os métodos e procedimentos para conhecer a sociedade são exatamente os mesmos que são utilizados para conhecer a natureza.
  2.3 Da mesma maneira que as ciências da natureza são ciências objetivas, neutras, livres de juízos de valor, de ideologias políticas, sociais e outras, as ciências sociais devem funcionar exatamente segundo esse modelo de objetividade científica.
  2.4 A idéia fundamental do método positivista é de que a ciência só pode ser objetiva e verdadeira na medida em que eliminar totalmente qualquer interferência de preconceitos ou prenoções.

3 A origem do Positivismo – como ele se desenvolve historicamente
 3.1 A idéia de uma ciência da sociedade, elaborada segundo o modelo científico natural, aparece particularmente no século XVIII.
 3.2 O Positivismo moderno é filho legítimo da filosofia das luzes.
 3.3 Tem num primeiro momento, uma visão social do mundo de dimensão utópica, crítica e até certo ponto, revolucionária.

4 Condorcet – Filósofo ligado à Enciclopédia
 4.1 Primeiro autor que se pode relacionar como Pai do Positivismo.
 4.2 Formula a idéia de que a ciência da sociedade, nas suas várias formas, deve tomar o caráter de uma matemática social, ser objeto de estudo matemático, numérico, preciso, rigoroso.
 4.3 Até aquele instante, considera que havia existido uma teoria da sociedade submetida aos preconceitos das classes poderosas.
 4.4 Contrário ao controle do conhecimento social pelas classes dominantes da época: clero, nobreza e Estado monárquico.
 4.5 Considera que, na marcha das ciências físicas os interesses e as paixões não perturbam, o mesmo deve ocorrer nas ciências da sociedade.
 4.6 Reconhece que o progresso do conhecimento era difícil, lento, porque “os objetos submetidos ao conhecimento social estavam nos interesses religiosos ou políticos”.
 4.7 O primeiro pensador que avança essa idéia de uma ciência natural da sociedade, objetiva e livre de preconceitos.

5 Saint-Simon – discípulo de Condorcet
 5.1 O primeiro a utilizar o termo positivo aplicado à ciência: ciência positiva.
 5.2 Pretendeu formular uma ciência da sociedade segundo o modelo biológico.
 5.3 Sua reflexão tem uma dimensão crítico-utópica.
 5.4 Sua análise, em sua fisiologia social, tem como finalidade demonstrar que certas classes sociais são parasitas do organismo social, referindo-se a aristocracia e ao clero.
 5.5 Sua fisiologia social tem uma força crítica de oposição à ordem estabelecida.
 5.6 Até os princípios do século XIX o positivismo tem um aspecto utópico-crítico, a mudança de direção só se dá depois de Saint-Simon através de Comte

6 Augusto Comte – continuador de Condorcet e Saint Simon
 6.1 Para Comte o pensamento tem que ser inteiramente positivo, dever-se-ia acabar com a dimensão revolucionária desse pensamento.
 6.2 Considera que Condorcet nunca chegou a descobrir as leis da sociologia devido a seus “preconceitos revolucionários”
 6.3 A palavra preconceito muda de função. Em sua fase utópica, o termo serve a uma função revolucionária e crítica.
 6.4 Com Comte, esse sentido muda, é o preconceito revolucionário de Condorcet, que apoiou a Revolução Francesa, ou revolucionário socialista de Saint-Simon.
 6.5 A luta contra os preconceitos muda radicalmente de função: de uma luta utópica, crítica, negativa, revolucionária, passa a ser uma luta conservadora.
 6.6 Formula a idéia de uma concepção de uma ciência natural, chamada inicialmente de física social.
 6.7 A física social é uma ciência cujo objeto de estudo são os fenômenos naturais, considerados no mesmo espírito que os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos.
 6.8 Considera uma tarefa importante de a sociologia explicar aos proletários essas leis invariáveis, porque são precisamente os proletários que precisam ser convencidos desse caráter natural da concentração indispensável das riquezas nas mãos dos chefes industriais.
 6.9 Segundo ele “graças ao positivismo os proletários reconhecerão, com a ajuda feminina, as vantagens da submissão e de uma digna irresponsabilidade”, submissão da mulher e dos proletários, resultando de leis naturais, invariáveis.
 6.10 O positivismo tende poderosamente, pela sua natureza, a consolidar a ordem pública pelo desenvolvimento de uma sábia resignação.
 6.11 A filosofia positiva que cria essa disposição se aplica a todos os campos, inclusive ao campo dos males políticos.
 6.12 Se essa sábia resignação for compartilhada por todos e a particularmente, pelo proletariado, teremos solidamente consolidado a ordem pública.
 6.13 Essa mudança de direção do positivismo, do campo crítico, utópico, negativo, revolucionário, para o campo conservador e legitimador da ordem estabelecida tem muito a ver com a situação histórica, a partir de 1830, quando a burguesia passa a ser a classe dominante na França.
 6.14 A partir desse momento ela deixa de ser uma classe contestadora, revolucionária, para se transformar em dominante, conservadora.

7 Durkheim – sociólogo no sentido pleno da palavra
 7.1 A fonte utilizada para formular o positivismo foi a economia política burguesa e a economia política clássica.
 7.2 Para ele, o objetivo da sociologia era estudar fatos que obedecem às leis sociais, leis invariáveis do mesmo tipo que as naturais, o método científico era o mesmo, bem como a busca da objetividade e da neutralidade.
 7.3 Ele considera que a sociedade não pode tomar posição por nenhuma doutrina social, nenhuma ideologia.
 7.4 A sociologia não é nem individualista nem socialista, e por princípio ela ignora essas teorias porque considera que elas não têm valo científico.
 7.5 Recomenda que o sociólogo deva fazer calar seus preconceitos e as suas paixões e com esse silêncio ele poderá iniciar o discurso objetivo da ciência.
 7.6 O cientista social deve pôr de lado sistematicamente todas as prenoções antes de começar a estudar a realidade social.
 7.7 A receita clássica do positivismo para resolver o problema da objetividade científica na ciência social, para resolver a contradição entre a existência de ideologias, utopias, visões sociais de mundo, a solução é um esforço do sociólogo para eliminar os elementos perturbadores.
 7.8 Para se libertar de seus preconceitos a primeira condição é reconhecer o que são preconceitos, prenoções, ideologias.
 7.9 Os próprios positivistas em nenhum momento lograram se libertar de seus próprios preconceitos e prenoções, conservadores, contra-revolucionários.
 7.10 Em “As Regras do Método Sociológico”, o próprio Durkheim se reconhece claramente em seus preconceitos conservadores.

8 Max Weber – não foi um autor no sentido positivista clássico
 8.1 Teve algumas divergências muito importantes com o positivismo e o único ponto em que ele converge com o pensamento positivista é na idéia da ciência social livre de juízos de valor.
 8.2 Teve como mestre o filósofo Rickert, o primeiro inspirador da idéia de que as ciências sociais e as ciências naturais têm métodos diferentes, em uma posição crítica ao positivismo. 
 8.3 Rickert partiu de uma observação fundamental para qualquer discussão científica: a realidade, por definição, é infinita; é impossível um conhecimento total da realidade.
 8.4 Considerando que a realidade é um conjunto infinito, para se realizar uma investigação é preciso trabalhar com dados finitos, relacioná-la a um objeto limitado, utilizando para tanto o método que ele chama de nomotétio  de estudo das leis ou idiográfico, que é o estudo dos fatos singulares.
 8.5 Cada fato social, histórico ou cultural é único, singular. Então há necessidade de um método que analise esse singular, o método idiográfico.
 8.6 Para Rickert toda ciência histórica e social implica necessariamente certos valores, que vão apontar o que é importante, e o que não é, o que merece ser estudado e o que não merece. São esses valores que definem o que deve ser considerado importante.
 8.7 Diante do problema: o que nos garante que esses fatos selecionados como importantes sejam efetivamente importantes? Rickert apresenta uma solução muito pouco consistente. Ele diz que os valores que servem para essa distinção são universais, aceitos por todos. Há um consenso geral, é um valor universal.
 8.8 Afirmava que não existe ciência social, cultural ou histórica, sem valores prévios e isso configurava, até certo ponto, uma ruptura com o positivismo.
 8.9 Max Weber, nega os valores universais, ele observa que cada nação, cada cultura, cada religião tem valores diferentes.
 8.10 Ele afirma que cada sujeito do conhecimento científico tem seus valores, suas próprias idéias sobre valores culturais.
 8.11 Ele considerava que se não houvesse valores no inicio do trabalho científico, não haveria produção científica, não se começaria a investigação porque não se saberia o que investigar.
 8.12 Esses valores que vão fornecer a problemática, isto é, as perguntas que serão feitas.
 8.13 Ele considera que, uma vez definido o objeto da investigação, o processo de investigação empírica que será desenvolvido está submetido a certas regras objetivas e universais da ciência, não dependem de valores.
 8.14 Os instrumentos conceituais usados dependem de valores mas, a maneira de usá-los para chegar à verdade se relaciona a regras gerais, universais, que valem para qualquer investigação.
 8.15 As pressuposições da pesquisa são subjetivas, dependem de valores, mas os resultados da investigação devem ser inteiramente objetivos, válidos para qualquer investigador, seja qual for o seu ponto de vista, suas pressuposições morais ou políticas.
 8.16 A partir da premissa da possibilidade de resultados livres de juízos de valor, Weber formulou uma espécie de imperativo categórico para os cientistas sociais: a separação, de maneira total e rigorosa dos juízos de fato e de valor, no processo de análise empírica da realidade.
 8.17 De valor – é impossível deduzir os fatos a partir dos valores: os valores podem inspirar nossa problemática – mas não podem servir de ponto de partida para deduzirmos uma análise crítica.
 8.18 De fato – não se pode deduzir os valores a partir dos fatos – se se fizer uma análise de fatos não se pode extrair daí conclusões morais, nem juízos de valor – a análise dos fatos não conduz de maneira lógica, a nenhuma conclusão política ou moral.
 8.19 Os fatos que são indicativos, e os valores que são imperativos, são esferas heterogêneas, que pertencem a universos distintos. O conhecimento dos fatos pode levar a tal ou qual opção política ou moral.
 8.20 Para Weber os juízos de valor, as ideologias, as visões sociais de mundo jogam um papel não só na seleção do objeto e na formulação da problemática, mas no conjunto da investigação científica, em todo o processo do conhecimento.
 8.21 Segundo ele, a própria problemática, já define em boa medida o conteúdo mesmo da investigação; o tipo de pergunta já dá cor política, ideológica, utópica, valorativa, ao conjunto da investigação.
 8.22 Lukács mostra como a problemática já define o conteúdo da investigação científica e o tipo de resposta possível.
 8.24 Weber resolve esse problema dizendo que isso é uma “debilidade humana”, uma fraqueza. Mas isso não o leva a nenhuma concepção ideológica de como escapar dessa fraqueza humana. O único remédio que ele propõe é “o dever elementar do controle científico de si mesmo”. Esse é o drama da teoria da ciência de Max Weber. Teoricamente constrói um sistema extremamente coerente e interessante, mas, acaba caindo no positivismo clássico princípio do Barão de Munchhausen.
 8.25 Apesar de sua honestidade científica indiscutível, Weber não conseguiu impedir a penetração de juízos de valor em sua obra.





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