terça-feira, 17 de maio de 2011

A Ideologia Alemã

FICHAMENTO DE TEXTO


MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. 2ª Ed. Editorial Presença. Portugal, 1932.
 
Volume I
1.FEUERBACH – Oposição entre a concepção materialista e a idealista
1.1 De acordo com certos ideólogos alemães, a Alemanha teria sido nestes últimos anos o teatro de uma revolução sem precedentes.
1.2 O processo de decomposição do sistema hegeliano, iniciado com Strauss, teria dado origem a uma fermentação universal para a qual teriam sido arrastadas todas as «potências do passado».

2.A ideologia em geral e a ideologia alemã em particular
2.1 Toda a crítica filosófica alemã desde Strauss até Stirner limita-se a criticar representações religiosas. Partiu-se da verdadeira religião e da teologia propriamente dita;
2.2 O desenvolvimento do tema consistiu em subordinar igualmente à esfera das representações religiosas ou teológicas as representações metafísicas, políticas, jurídicas, morais e outras que se consideravam predominante;
2.3 Proclamava-se que a consciência política, jurídica e moral é uma consciência religiosa ou teológica e que o homem político e moral, o homem em última instância é religioso;
2.4 Postulou-se o domínio da religião, e pouco a pouco se declarou que todas as relações dominantes são relações religiosas;
2.5 Os jovens hegelianos criticaram tudo, substituindo as coisas por representações religiosas ou proclamando-as teológicas.
2.6 Como na sua imaginação, as relações entre os homens, todos os seus atos e os seus gestos, as suas cadeias e os seus limites, são produtos da consciência, os jovens-hegelianos, coerentes consigo mesmos, propõem aos homens este postulado moral: substituir a sua consciência atual pela consciência humana crítica ou egoísta e, ao fazê-lo, abolir os seus limites;
2.7 Não perguntam qual a relação entre a filosofia alemã e a realidade alemã, a relação entre a sua crítica e o seu próprio meio material.

3.A ideologia alemã; em especial, a filosofia alemã
3.1 As premissas não constituem dogmas; são antes bases reais de que só é possível abstrair no âmbito da imaginação. As premissas do materialismo são os indivíduos reais, a sua ação e as suas condições materiais de existência;
3.2 Ao produzirem os seus meios de existência, os homens produzem indiretamente a sua própria vida material;
3.3 A forma como os homens produzem esses meios depende da natureza, isto é, dos meios de existência já elaborados e que lhes é necessário reproduzir;
3.4 O modo de produção constitui um modo determinado de atividade de tais indivíduos, uma forma determinada de manifestar a sua vida, um modo de vida determinado;
3.5 A forma como os indivíduos manifestam a sua vida reflete aquilo que são;
3.6 O que são coincide, portanto com a sua produção, isto é, tanto com aquilo que produzem como com a forma como produzem;
3.7 As relações entre os indivíduos são condicionadas pela produção
3.8 As relações entre as diferentes nações dependem do estádio de desenvolvimento das forças produtivas, da divisão de trabalho e das relações internas em cada uma delas
3.9 A divisão do trabalho numa nação obriga em primeiro lugar à separação entre o trabalho industrial e comercial e o trabalho agrícola; e, como conseqüência, à separação entre a cidade e o campo e à oposição dos seus interesses.
3.10 Os vários estágios de desenvolvimento da divisão do trabalho representam outras tantas formas diferentes de propriedade
• 1º propriedade da tribo – corresponde ao tipo rudimentar de produção – divisão do trabalho natural, no âmbito da família/ a estrutura social é uma extensão da estrutura familiar
• 2º propriedade comunitária e a propriedade estatal – reunião de várias tribos numa única cidade/ a par da propriedade comunitária desenvolve-se a propriedade privada mobiliária e mais tarde a imobiliária; mas desenvolve-se ainda como uma forma anormal e subordinada à propriedade comunitária / a estrutura social desagrega-se na medida em que se desenvolve a propriedade privada imobiliária
• 3º propriedade feudal ou por ordens/ propriedade fundiária/ novas relações campo/cidade
3.11 A estrutura social e o Estado resultam constantemente do processo vital de indivíduos determinados; mas não resultam daquilo que estes indivíduos aparentam perante si mesmos ou perante outros e sim daquilo que são na realidade, isto é, tal como trabalham e produzem materialmente;
3.12 A produção de idéias, de representações e da consciência está em primeiro lugar direta e intimamente ligada à atividade material e ao comércio material dos homens; é a linguagem da vida real;
3.13 O mesmo acontece com a produção intelectual quando esta se apresenta na linguagem das leis, política, moral, religião, metafísica, etc., de um povo;
3.14 São os homens, condicionados pelo desenvolvimento das forças produtivas, que produzem as suas representações e suas idéias;
3.15 A consciência nunca pode ser mais do que o Ser consciente; e o Ser dos homens é o seu processo da vida real;
3.16 A moral, a religião, a metafísica e qualquer outra ideologia, tal como as formas de consciência que lhes correspondem, perdem imediatamente toda a aparência de autonomia;
3.17 Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência.

4.A História
4.1 Feuerbach: a concepção do mundo visível limita-se, por um lado, à simples contemplação deste último e, por outro, ao simples sentimento
4.2 Não vê que o mundo sensível em seu redor não é objeto dado diretamente para toda a eternidade, e sempre igual a si mesmo, mas antes o produto da indústria e do estado da sociedade, isto é, um produto histórico
4.3 Os objetos da mais simples “certeza sensível” só são dados a Feuerbach através do desenvolvimento social, da indústria e das trocas comerciais;
4.4 A indústria e o comércio, a produção e a troca das necessidades vitais condicionam a distribuição, a estrutura das diferentes classes sociais, sendo por sua vez, condicionadas por elas no seu modo de funcionamento;
4.5 Feuerbach percebe que o homem é também um “objeto sensível” e não como “atividade sensível”, pois nesse ponto ainda se agarra à teoria e não integra os homens no seu contexto social, nas suas condições de vida que fizeram deles o que são;
4.6 Não critica as atuais condições de vida, não consegue apreender o mundo sensível como a soma da atividade viva e física que o compõem - idealismo puro;
4.7 Enquanto materialista, nunca faz intervir a história; e quando aceita a história, não é materialista. Nele, história e o materialismo são coisas completamente separadas.
4.8 Pressupostos históricos da existência humana não assimilados pelos alemães:
• O primeiro fato histórico é, pois a produção dos meios que permitem satisfazer essas necessidades, a produção da própria vida material; trata-se de um fato histórico, de uma condição fundamental de toda a história, que é necessário, tanto hoje como há milhares de anos, executar dia a dia para manter os homens vivos;
• Uma vez satisfeita a primeira necessidade, a ação de satisfazê-la e o instrumento utilizado para tal conduzem a novas necessidades e essa produção de novas necessidades constitui o primeiro fato histórico;
• Terceiro aspecto que intervém diretamente no desenvolvimento histórico é o fato de os homens, que em cada dia renovam a sua própria vida, criarem outros homens, reproduzirem-se; é a relação entre o homem e a mulher, os pais e filhos, a família, que é inicialmente a única relação social, transformam-se numa relação subalterna quando o acréscimo da população dá origem a novas necessidades; deve abordar e desenvolver esse tema da família a partir dos fatos empíricos existentes;
• Um determinado modo de produção ou estágio de desenvolvimento industrial se encontra permanentemente ligados a um modo de cooperação ou a um estado social determinados, e que esse modo de cooperação é ele mesmo uma "força produtiva”; segue-se que o conjunto das forças produtivas acessíveis ao homem determina o estado social e que se deve consequentemente estudar e elaborar a “história dos homens” em estrita relação com a história da indústria e das trocas.

5 A consciência é, pois um produto social e continuará a sê-lo enquanto houver homens, é antes de tudo, a consciência do meio sensível imediato e de uma relação limitada com outras pessoas e outras coisas situadas fora do indivíduo que toma consciência;
5.1 A consciência gregária e tribal desenvolve-se e aperfeiçoa-se posteriormente devido ao aumento da produtividade, das necessidades e da população, que constitui aqui o fator básico;
5.2 É desse modo que se desenvolve a divisão do trabalho, que só surge efetivamente a partir do momento em que se opera uma divisão entre o trabalho material e intelectual
5.3 A partir desse instante ela encontra-se em condições de se emancipar do mundo e de passar à formação da teoria “pura”, teologia, filosofia, moral, etc.;
5.4 Quando esse conjunto entra em contradição com as relações existentes, isso deve-se apenas ao fato de as relações sociais existentes terem entrado em contradição com a força produtiva existente;
5.5 Através da divisão do trabalho torna-se possível que a atividade intelectual e material, o gozo e o trabalho, a produção e o consumo, caibam a indivíduos distintos; então a possibilidade de que esses elementos não entrem em conflito reside unicamente na hipótese de acabar de novo com a divisão do trabalho;
5.6 Distribuição desigual tanto em qualidade quanto em quantidade; dá, portanto origem à propriedade, cuja primeira forma, o seu germe, reside na família, onde a mulher e as crianças são escravas do homem;
5.7 Divisão do trabalho e propriedade privada são expressões idênticas, a primeira enuncia-se relativamente à atividade, a Segunda, ao produto dessa atividade;
5.8 Esta contradição entre o interesse particular e o interesse coletivo que faz com que o interesse coletivo adquira, na qualidade de Estado, uma forma independente, separada dos interesses reais do indivíduo e do conjunto e tome simultaneamente a aparência de comunidade ilusória, mas sempre sobre a base concreta dos laços existentes em cada conglomerado família e tribal, tais como laços de sangue, língua, divisão do trabalho em larga escala e outros interesses;
5.9 Interesses que ressaltam os interesses de classe já condicionadas pela divisão do trabalho;
5.10 Decorre que todas as lutas no seio do Estado, a luta entre a democracia, a aristocracia e a monarquia, a luta pelo direito do voto, etc., são apenas formas ilusórias que encobrem as lutas efetivas das diferentes classes entre si.

6 Alienação - desde o momento que o trabalho começa a ser repartido, cada indivíduo tem uma esfera de atividade que lhe é imposta e da qual não pode sair
6.1 Esta fixação da atividade social, esta petrificação do nosso próprio trabalho num poder objetivo que nos domina e escapa ao nosso controle contrariando a nossa expectativa e destruindo os nossos cálculos, é um dos momentos capitais do desenvolvimento histórico até aos nossos dias;
6.2 Esta alienação só pode ser abolida mediante duas condições práticas: é necessário que tenha dado origem a uma massa de homens totalmente “privada de propriedade”, que se encontre simultaneamente em contradição com um mundo de riqueza e de cultura com existência real / é através do desenvolvimento universal das forças produtivas que é possível estabelecer um intercâmbio universal entre os homens.

7 O comunismo não é um estado que deva ser implantado, nem um ideal a que a realidade deva obedecer, mas um movimento real que acaba com o atual estado de coisas.

8 É a sociedade civil o verdadeiro lar, o verdadeiro cenário de toda a história. Consideramos apenas um aspecto da atividade humana: o trabalho dos homens sobre a natureza. O outro aspecto, o trabalho dos homens sobre os homens. Origem do Estado e a relação do Estado com a sociedade;
8.1 Cada geração continua, por um lado, o modo de atividade quer lhe foi transmitido, mas em circunstâncias radicalmente transformadas e, por outro, modifica as antigas circunstâncias dedicando-se a uma atividade radicalmente diferente;
8.2 Quanto mais as esferas individuais, que atuam uma sobre a outra, aumentam no decorrer desta evolução, e mais o isolamento primitivo das diversas nações sé destruído pelo aperfeiçoamento do modo de produção, pela circulação e a divisão do trabalho entre as nações que daí resulta espontaneamente, mas a história se transforma em história mundial.

9 No desenvolvimento das forças produtivas atinge-se um estágio em que surgem forças produtivas e meios de circulação que só podem ser nefastos no âmbito das relações existentes... Nasce no decorrer desse processo uma classe que suporta todo o peso da sociedade sem desfrutar das suas vantagens... Classe da qual surge a consciência da necessidade de uma revolução, consciência essa que é a consciência comunista;
9.1 As condições em que se podem utilizar forças produtivas determinadas são as condições de dominação de uma determinada classe da sociedade, o poder social dessa classe... Encontra regularmente a sua expressão prática sob forma idealista no tipo de Estado próprio de cada época;
9.2 Em todas as revoluções anteriores, permanecia inalterado o modo de atividade e procedia-se apenas a uma nova distribuição dessa atividade, a uma nova repartição do trabalho entre outras pessoas, a revolução, ao contrário, é dirigida contra o modo de atividade anterior;
9.3 Torna-se necessária uma transformação maciça dos homens para criar em massa essa consciência e levar a bom termo esses objetivos;
9.4 Essa concepção da história... Não tenta explicar a prática a partir da Idéia, mas sim a formação das idéias a partir da prática material; chega, portanto, à conclusão de que todas as formas e produtos da consciência podem ser resolvidos não pela crítica intelectual, pela redução à “consciência de si”... Mas unicamente pela destruição prática das relações sociais concretas de onde nasceram as bagatelas idealistas;
9.5 Crítica: aquilo que é propriamente histórico surge separado da vida ordinária, como extra e supra terrestre. As relações entre os homens e a natureza são assim excluídas da historiografia, o que dá origem à oposição entre natureza e história
9.6 Esta concepção só permitiu encontrar os grandes acontecimentos históricos ou políticos, as lutas religiosas e principalmente teóricas, e foi obrigada a partilhar com qualquer época histórica a ilusão dessa época;
9.7 Os alemães movem-se no domínio do “espírito puro” e fazem da ilusão religiosa a força motriz da história;
9.8 A verdadeira solução prática dessa fraseologia, a eliminação destas representações na consciência dos homens, só será realizada através de uma transformação das circunstâncias e não por deduções teóricas.

10 Feurbach: desenvolve a idéia de que o Ser de um objeto ou de um homem constitui igualmente a sua essência, de que as condições de existência, o modo de vida e a atividade determinada de uma criatura animal ou humana são aqueles com que a sua “ess6encia” se sente satisfeita.
10.1 Se existem milhões de proletários que não se sentem satisfeitos comas suas condições de vida, se o seu “Ser” não corresponde de forma alguma à sua “essência”, deveríamos considerar este fato como uma infelicidade inevitável que seria conveniente suportar tranqüilamente.... mas este sabe que a revolução é o caminho.....
10.2 É por isso que Feuerbach nunca fala do mundo dos homens e se refugia na natureza exterior, na natureza que o homem ainda não controlou;
10.3 Os pensamentos da classe dominantes são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes... A classe que tem o poder material dominante numa dada sociedade é também a potência dominante espiritual
10.4 Os pensamentos dominantes são apenas a expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas soba forma de idéias e, portanto, a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante... São as idéias de seu domínio
10.5 Têm posição dominante como seres pensantes, como produtores de idéias, que regulamentem a produção e a distribuição dos pensamentos da sua época, as suas idéias são, portanto, as idéias dominantes da sua época.

11 Divisão do trabalho: manifesta-se igualmente no seio da classe dominante sob a forma de divisão entre o trabalho intelectual e o trabalho material
11.1 Uns serão os pensadores dessa classe (ideólogos ativos ) e os outros têm uma atitude mais passiva e mais receptiva face a esses pensamentos e a essas ilusões, porque são, na realidade, os membros ativos da classe e dispõem de menos tempo para produzirem ilusões e idéias sobre as suas próprias pessoas
11.2 A existência de idéias revolucionárias numa época determinada pressupõe já a existência de uma classe revolucionária
11.3 Cada classe no poder é obrigada... Para atingir os seus fins, a representar o seu interesse como sendo o interesse comum a todos os membros da sociedade ou, exprimindo a coisa no plano das idéias, a dar aos seus pensamentos a forma da universalidade, a representá-los como sendo os únicos razoáveis, os únicos verdadeiramente válidos
11.4 Coloca os indivíduos em estado de poderem chegar à classe dominante... Revolução Francesa;
11.5 Toda a ilusão que consiste em pensar que o domínio de uma classe determinada é apenas o domínio de certas idéias, cessa naturalmente desde que o domínio de uma classe deixa de ser a forma do regime social, isto é, quando deixa de ser necessário representar um interesse particular como sendo o interesse geral ou de representar o “Universal” como dominante.

12 Hegel: “A filosofia da história” examina apenas o desenvolvimento do “Conceito”

13 Marx: regressa aos produtores “do conceito”, aos teóricos, ideólogos e filósofos, para chegar à conclusão de que os filósofos enquanto tais sempre dominaram na história – resultado que o próprio Hegel havia chegado

14 Na vida corrente, qualquer um sabe muito bem fazer a distinção entre aquilo que cada um pretende ser e aquilo que é realmente; mas a nossa história ainda não conseguiu chegar a esse conhecimento vulgar

15 Relativamente a cada época, a historiografia acredita plenamente naquilo que a época em questão diz de si mesma e nas ilusões que tem sobre si mesma
15.1 A maior divisão entre o trabalho material e o intelectual é a traduzida pela separação da cidade e do campo
15.2 A existência da cidade implica imediatamente a necessidade da administração, da polícia, dos impostos, ou seja, a necessidade da organização comunitária, partindo da política em geral
15.3 É ai que aparece em primeiro lugar a divisão da população em duas grandes classes, divisão essa que repousa diretamente na divisão do trabalho e nos instrumentos de produção
15.4 Essa oposição só pode existir no quadro da propriedade privada; é mis flagrante expressão da subordinação do indivíduo à divisão do trabalho, da subordinação a uma atividade determinada que lhe é imposta.

16 Cidades construídas antes da Idade Média: corporações/jornaleiros: estes trabalhadores, chegando às cidades isoladas, nunca conseguiram constituir uma força, pois o seu trabalho era da competência de uma dada corporação e devia ser aprendido, e então os mestres dessa corporação os submetiam às suas leis e organizavam-nos de acordo com os seus interesses,
16.1 O seu trabalho não exigia qualquer aprendizagem, não era de competência de qualquer corporação, era um trabalho de jornaleiro e nunca chegavam a constituir uma organização – plebe
16.2 Estas cidades formavam verdadeiras “associações” provocadas pelas necessidades imediatas, pelas preocupações de proteção da propriedade, e estavam a multiplicar os meios de produção e os meios de defesa dos seus membros individualmente considerados
16.3 A plebe não tinha qualquer organização
16.4 Os companheiros e aprendizes estavam organizados em cada profissão da forma que melhor servia os interesses dos mestres, as relações patriarcais que existiam entre eles e os mestres conferiam a estes últimos um poder duplo:
16.5 Influência direta sobre a vida dos oficiais; pelo ato destas relações representarem uma verdadeira ligação entre os companheiros que trabalhavam para um mesmo mestre, estes constituíam um bloco frente aos companheiros ligados a outros mestres, o que os separava; os companheiros já estarem ligados ao regime existente pelo simples fato de terem interesse em chegar a mestres
16.6 Enquanto a plebe se lança em alguns motins, os oficiais nunca ultrapassaram pequenas rebeliões no interior de corporações isoladas
16.7 As grandes sublevações da Idade Média partiram do campo, e todas elas falharam devido à dispersão dos camponeses.

17 O capital era um capital natural que consistia em alojamento, instrumentos e uma clientela natural hereditária, e transmitia-se necessariamente de pais para filhos dado o estado ainda embrionário das trocas e a falta de circulação que impossibilitava a realização desse capital.

18 A divisão do trabalho efetuava-se ainda de uma forma perfeitamente espontânea entre as diferentes corporações mas não existia entre os operários tomados isoladamente no interior das próprias corporações; cada trabalhador devia estar apto a exercer todo o ciclo do trabalho

19 O seqüente desenvolvimento da divisão de trabalho traduziu-se pela separação entre a produção e o comércio, a formação de uma classe particular de comerciantes, separação essa que já era fato nas cidades antigas e que depressa surgiu nas cidades de formação recente

20 As cidades entram em relação entre si, transportam-se de uma cidade para outra instrumentos novos e a divisão da produção e do comércio suscita rapidamente uma nova divisão da produção entre as diferentes cidades cada uma a explorar um determinado ramo da indústria

21 Necessidade de criar todos os dias cada invenção e fazê-lo em cada localidade de uma forma independente – incessantes invasões e destruições

22 A divisão do trabalho entre as diferentes cidades teve como primeira conseqüência o nascimento das manufaturas, ramos da produção que escapavam ao sistema corporativo – a tecelagem foi a primeira e principal atividade manufatureira

23 Transformação nas relações de propriedade, mobilização de grande massa de capital primitivo e aumento do capital móvel relativamente ao capital primitivo

24 Coma s manufaturas, as diferentes nações entram em concorrência, numa luta comercial que se efetuou através de guerras, de direitos alfandegários e de  proibições... O comércio passa a ter um significado político

25 Modificação nas relações entre trabalhador e empregador: relações patriarcais substituídas por relações monetárias

26 O comércio e a manufatura criaram a grande burguesia

27 O direitos alfandegários dos senhores feudais foram substituídos por impostos  citadinos como meio de armazenar dinheiro

28 Estas medidas tomam um novo significado com o aparecimento do ouro e da prata americanos nos mercados europeus

29 A manufatura obtinha garantias constantes no mercado nacional através de direitos protetores da concessão de monopólios no mercado colonial, e, para o exterior, mediante alfândegas diferenciais;

30 A concentração do comércio e da indústria num único país, a Inglaterra, tal como se desenvolveu sem interrupção no século XVII, criou progressivamente para esse país um mercado mundial razoável e suscitou por isso uma procura dos produtos ingleses manufaturados que as forcas produtivas industriais anteriores já não podiam satisfazer;

31 Apesar das medidas de proteção, a grande indústria tornou a concorrência universal, estabeleceu os meios de comunicação e o mercado mundial moderno, colocou o comércio sob o seu domínio, transformou todo o capital em capital industrial e deu assim origem à circulação e à rápida centralização dos capitais

32 Aniquilou o mais possível a ideologia, a religião, a moral, e sempre que isso não lhe era possível, transformou-as em flagrantes mentiras

33 Subordinou a ciência da natureza ao capital e retirou à divisão do trabalho a sua última aparência de fenômeno natural

34 Substituiu todas as relações naturais em monetárias

35 Em vez de cidades nascidas naturalmente criou-se cidades industriais / destruição de todas as formas anteriores da indústria

36 A grande burguesia surge com uma classe cujos interesses são os mesmos em todas as nações, acaba-se com os interesses nacionais particulares

37 Mas este fato não trava o movimento do proletariado

- esta contradição entre as forças produtivas e as formas de troca se produziu outras vezes, mas sem comprometer a base fundamental
- o comunismo distingue-se de todos os movimentos que o precederam pelo fato de alterar a base das relações de produção
- todas as apropriações revolucionárias anteriores foram limitadas – subordinação da propriedade a todos – apropriação da totalidade das forças produtivas.

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